Malanje- A falta de aldeamentos turísticos e de traços identitários dos povos condiciona o fomento do turismo rural e a exploração de muitos encantos da província de Malanje.
O turismo rural é uma actividade centrada no contacto directo com a natureza, agricultura e as tradições locais das comunidades, baseada em hospedagem domiciliar em ambiente rural e em família.
Esta é a apreciação do director do gabinete provincial da Cultura, Turismo, Juventude e Desportos, Fernandes Cristóvão que, em declarações à ANGOP, explicou que a actividade deriva inicialmente de um roteiro, mapa e guia turístico, elementos inexistentes na região.
“Esse turismo se desenvolve essencialmente nas comunidades, em observância as condições sociais e económicas, hábitos e costumes dos turistas e da população das zonas a visitar”, apontou, acrescentando que estes aspectos são fundamentais para a atracção de turistas.
Sem avançar detalhes, destacou a existência de um projecto do Ministério da Cultura, Turismo e Ambiente, em parceria com a Organização das Nações Unidas, que visa identificar aldeias turísticas do país, incluindo na província de Malanje, cuja concretização não aconteceu devido ao surgimento da Covid-19.
A iniciativa, realçou, abrange aldeias que tenham potencial turístico, capital cultural, agrícola e tradicional dos povos, visando a catalogação das mesmas e integração no futuro roteiro turístico e cultural da província, para o fomento do turismo rural.
“Tudo ficou suspenso devido à Covid-19 e o Ministério já não voltou às evidências deste projecto”, lamentou.
O responsável indicou a Aldeia de Quinjila, no município de Calandula, como uma zona propícia para o desenvolvimento do turismo rural, devido à existência do pássaro Cocifa de Cabeça Branca, uma espécie que no mundo só existe nesta região de Angola e na República Democrática do Congo.
Em função dessa ave rara, o Ministério da Cultura, Turismo e Ambiente previa a criação da rota do turismo da província e do país, aspecto que não veio a se concretizar, alegadamente por dificuldades financeiras aliadas à Covid-19 e às reformas operadas no aparelho governativo, tendo sido apenas realizada uma conferência internacional sobre ecoturismo e informação ambiental, em Julho de 2018.
O município de Calandula detém uma pousada, construída na década de 50, com objectivo de fomentar o turismo rural, mas, devido ao conflito armado que o país viveu, a mesma ficou abandonada, tendo sido recuperada apenas em 2017, por iniciativa privada.
A estrutura comporta 37 quartos e dá vista directa às quedas de Calandula e tem também uma componente agrícola, destacando-se na produção de milho, soja e mandioca.
Alguns turistas entrevistados pela ANGOP disseram que apesar de aconchegante, a pousada de Calandula recebe poucas pessoas, devido aos elevados preços dos serviços de restauração e dormitório, fazendo com os visitantes regressem à casa no mesmo dia.
O turista José Almeida disse que frequenta regularmente as quedas de Calandula, mas tem dificuldades de se alojar e fazer refeições na pousada e noutras unidades por falta de condições financeiras, situação motivada, provavelmente, a falta de concorrência.
A mesma opinião é partilhada pelos turistas João Fernandes e Mateus Cabuila, que apelaram o governo a dar abertura a mais investimentos privados no sector turístico e hoteleiro, para que a oferta de serviços seja maior.