Porto Amboim – A cidade costeira do Porto Amboim, província do Cuanza Sul, assinala, este domingo, 436 anos com expectativa na execução de projectos de distribuição de água potável, desenvolvimento do sistema de irrigação agro-pastoril.

Em declarações à ANGOP, a administradora municipal do Porto Amboim, Maria Sumano, anunciou a realização de estudos topográficos, impacto ambiental e hidráulicos que abrange um percurso de 36 quilómetros, a partir do Rio Queve, para a instalação de um sistema de água para abastecer a cidade e periferia do Porto Amboim.

“ Temos de reconhecer que existe um déficit na produção e distribuição de água para a população e com estes estudos acreditamos que veremos resolvido este problema”, disse a responsável.

Acredita que após os estudos seja mobilizado o financiamento e a instalação de um sistema capaz de satisfazer as necessidades da população”.

De acordo com dados do conselho de auscultação dos moradores da circunscrição - órgão de consulta da administração municipal, 80 mil habitantes na cidade e periferia do Porto Amboim ressente da redução na distribuição da água.

O município do Porto Amboim é abastecido por um sistema de captação de água do Rio Queve, construído em 1958, num percurso de 36 quilómetros. 

Para satisfazer a demanda, existe, há mais de quatro anos, um mega-projecto de USD 35 milhões para a construção de um sistema de captação, tratamento e distribuição de água.

“ A nossa grande preocupação é que se retoma o projecto de reforço do sistema de água, porque temos os rios Queve, Longa, Mugigi (….) e não se justifica que continuamos a depender de cisternas e distribuição de uma ou duas vezes por mês das fontes oficiais”, disse João Carlos, membro da sociedade civil.   

A obra do reforço do sistema de abastecimento de água potável para o Porto Amboim está paralisada desde 2017 e contribuirá, de acordo com os membros dos conselhos de moradores, na redução da distribuição para uma população estimada em mais de 80 mil habitantes.

A ANGOP apurou que a obra de reforço do sistema de abastecimento de água de Porto Amboim, consignada em 2015, custa USD 60 milhões 073 mil, 883, 81 cêntimos, a cargo da empresa CGCCO, sob fiscalização da empresa INGESFISCO.

Inicialmente, de acordo com fontes oficiais consultadas pela ANGOP, o projecto previa a construção de dois tanques de água com capacidade de cinco mil metros cúbicos cada e no local está erguido apenas um com a referida dimensão.

Projecto de desenvolvimento do sistema de irrigação agro-pastoril

Um despacho presidencial autoriza uma despesa de € 75 milhões 545 mil, 072 e 78 cêntimos destinados à concepção/construção do sistema de irrigação na região Agro-pastoril do Porto Amboim, província do Cuanza Sul.

De acordo com o Despacho Presidencial número 37/23 de 24 de Fevereiro, “é autorizada a despesa no valor de € 75.545.072,72 e formalizada a abertura do procedimento de contratação simplificada para o projecto de concepção/ construção do sistema de irrigação da região Agro-pastoril do Porto Amboim”.

O documento consta no Diário da República I Série número 37.

O projecto de irrigação agro-pastoril do Porto Amboim, província do Cuanza Sul, vai abranger uma área de 145 mil hectares a partir do Rio Mugigi.

De acordo com o director do Gabinete de Estudos, Planeamento e Estatística do Ministério da Agricultura e Florestas, Anderson Jerónimo, a execução física do projecto inicia em Fevereiro de 2024 para um período de 36 meses, entre concepção e construção.

O projecto, de acordo com a fonte, compreende uma captação de água para 180 mil cabeças de gado bovino, um centro de distribuição com uma capacidade de 240 metros cúbicos por hora, uma Estação de Tratamento de Água (ETA), reservatórios com um volume de  3.400 metros cúbicos de água.

A Associação de Criadores de Gado no Porto Amboim prevê a oportunidade para o desenvolvimento agropastoril, visto que a água tem sido o maior empecilho para a materialização de projectos agrícolas e abeberamento do gado.

António Saraiva disse que o município do Porto Amboim conta com mais de 60 mil cabeças de gado bovino, cinco mil ovinos, seis mil caprinos distribuídos em mais de 800 currais que entre Setembro e Fevereiro debatem-se com problemas de água.

De acordo com a Associação dos Criadores, actualmente o gado percorre cerca de 30 quilómetros para beber água e em alguns casos partilham com a população.

Porto Amboim aberto à navegação marítima

Com uma orla marítima de 80 quilómetros entre a Hogiua e a Chicucula, nesta zona costeira está instalada a Empresa Porto Amboim Estaleiro Naval (PAENAL) numa área de 27 hectares de serviço e aberta à navegação marítima.

O cais possui 490 metros de comprimento e uma profundidade de 10 metros, bem como uma certificação Internacional para Protecção de Navios e Instalações Portuárias (ISPS), da Organização Marítima Internacional (IMO), que permite atracar navios para actividade comercial ou mineira.

A ponte cais  tem  meios mecânicos e industriais para o apoio a indústria petrolífera, mas pode ser utilizado no âmbito comercial e, ou mesmo, mineiro caso exista interesse.

“Estamos abertos para navios comerciais e mineiros", assegurou o director-geral do Porto Amboim Estaleiro Naval (PAENAL), Luís Barroso.

Historial da Cidade do Porto Amboim

Os Mupindas são os primeiros povos que habitaram a circunscrição, sendo originários do Norte de Angola e fazem parte do Reino do Ndongo, cujo patrono chamava-se Caponge, gerado pelo rei Ngola Kiluanje e uma das suas escravas, a Mulundo.

De acordo com o investigador cultural Pedro Domingos Caetano “ Ganga”, o primeiro e verdadeiro contacto entre os Mupindas e os portugueses realizou-se em 15 de Outubro de 1587 por António Lopes Peixoto a mando de Paulo Dias de Novais, com a finalidade de erguer um fortim de segurança no local ,com a forma de baía onde Diogo Cão passou sem atracar para nele construir um povoado.

António Peixoto baptizou o local com o nome de Benguela, porém o povoado não foi edificado, mas instalado um fortim e um pedestal de madeira devido a revolta dos Mupindas.

Em 1771 face a importância da circunscrição, Sousa Coutinho, então governador de Angola, encarregou o capitão–general Francisco Nunes de Morais para fundar, no mesmo local, uma povoação com a denominação de Benguela-velha, consumando, em 1773, com ajuda de alguns indígenas de outras tribos vizinhas.

Porto Amboim foi elevada a estatuto de cidade a 15 de Janeiro de 1974, pelo então governador da província de Angola, Fernando Augusto Santos Castro.LC/VM