Lubango – A província da Huíla registou, só no primeiro semestre deste ano, 38 casos de agressões sexuais contra crianças, mais 12 que no igual período de 2021, 33 desses delitos foram esclarecidos pela Polícia Nacional, sendo algumas das vítimas menores de três anos.
Ao todo estão presos na penitenciária do Lubango, os 26 cidadãos suspeitos desses crimes e aguardam por julgamento, enquanto se instrui os respectivos processos-crime.
O aumento de casos de abuso sexual contra menores tem se tornando uma prática contaste na província da Huíla, o que preocupa as autoridades locais, sendo o Lubango, Matala e Quipungo os municípios onde são mais frequentes esses crimes.
Em declarações hoje, terça-feira, à ANGOP, a directora do Instituto Nacional da Criança (INAC), na Huíla, Inês Pimentel, que apresentou os números, fez saber que apesar da intensificação das campanhas de sensibilização sobre o abuso sexual contra menores, os números tendem a subir e os protagonistas, na sua maior parte, são pessoas próximas das vítimas.
De princípio, com o início da campanha, verificou-se que os números estavam a diminuir, mas de um tempo para cá, o quadro inverteu-se e a situação só tende a piorar, o que tem constituído uma preocupação “muito grande”.
Inês Pimentel acrescentou que na província da Huíla as queixas não vêm de forma directa ao INAC, mas sim à Polícia e dali encaminha-se ao SIC, que tendo em conta a especificidade, investiga e apresenta os presumíveis culpados ao Ministério Público.
Inês Pimentel aconselha às famílias a ter um maior acompanhamento às crianças, pois os violadores estão próximos, sublinhando ser importante terem em atenção a mudança repentina de comportamentos das crianças, que muitas vezes podem estar associados a casos de abusos de que estejam a ser vítimas, sobretudo quando elas são deixadas sob cuidados de outrem.
Por sua vez, o porta-voz da Polícia Nacional na província, inspector-chefe Fernando Tongo, disse que dos 38 casos registados de Janeiro a Junho, do ano em curso, os municípios do Lubango, Matala e Quipungo são os que se destacam com 24, seis e três, respectivamente.
A idade das vítimas, segundo o oficial, está entre os três e 15 anos, enquanto a dos suspeitos dos 18 aos 60 anos, sublinhando que a maior parte das denúncias chega pela voz dos vizinhos e não dos familiares.
Ouvido pela ANGOP, sobre o assunto, o psicólogo-clínico, Belchior Chissingui, aponta como consequências do abuso sexual a retracção da vítima até à vida adulta, isolamento, ansiedade, agressividade sexual, distúrbios alimentares, algumas chegam a odiar o mundo e as pessoas, pois pensam que todos são maus.
Acrescentou, também, que um dos motivos que leva a este acto do abuso sexual contra menores é o envolvimento com práticas de feitiçaria e muitas vezes quando o agressor é parente, chega a ser protegido, para não pôr em causa a sua “reputação” e nalguns casos a própria vítima é hostilizada e culpabilizada pelo crime.