Lubango – O Departamento de Medicina Legal do Serviço de Investigação Criminal (SIC), na Huíla, registou nos últimos cinco anos 200 suicídios no Lubango, capital da provincial da Huíla, 12 por cento deles de crianças até aos 17 anos de idade.
Comparativamente ao igual período de 2011 a 2015, aquele órgão do Ministério do Interior, observou um aumento de 38 casos.
Dos registos, 21 por cento das pessoas deixaram uma mensagem a justificar o acto e na maior parte deles apontou questões passionais (ciúmes), acusação da prática de feitiçaria e problemas económicos.
Os números foram avançados hoje, quinta-feira, no Lubango, pelo chefe do referido departamento do SIC, António Pascoal, revelando que nesse período registou-se uma média de três a quatro casos de suicídio por dia, em residências e até na via pública.
O também médico legista apresentou os dados à margem de uma palestra sobre “causísticas de suicídio na cidade do Lubango”, no quadro da VI Conferência Sobre Saúde Mental, uma iniciativa do Instituto Politécnico Tundavala (ISPT), por ocasião do Dia Internacional da Saúde Mental, assinalado no dia dez do corrente mês.
Sublinhou que desde 2016 que o Departamento faz um estudo para monitorar o fenómeno e notou-se uma evolução gradual dos números.
“O pico foi em 2020, quando atingimos 48 casos de suicídio num só ano no Lubango, por isso trouxemos o assunto à essa conferência para com parceiros sociais nacionais e estrangeiros buscarmos soluções para inverter-se o quadro”, disse o médico.
Por sua vez a vice-governadora da Huíla para o sector político, social e económico, Maria João Chipalavela, que abriu a conferência, defendeu a necessidade “urgente" do envolvimento da sociedade na mudança de comportamento e atitudes, para sair dessa tendência.
Por isso, as atitudes e comportamentos precisam de reforços positivos, para que possam suportar as grandes cargas e aumentar os níveis de resiliência, de modo a superar as pressões do quotidiano, sugeriu.
Afirmou que este fenómeno abrange até famílias que, aparentemente mostram ter estruturas mentais mais sólidas, daí a necessidade de maior e melhor acompanhamento.
Destacou a pertinência do evento, pois desperta a sociedade para a necessidade do suporte familiar, social e comunitário, assim como em prestar mais atenção aos casos de pessoas em isolamento social e emocional, que muitas vezes têm como causas vários factores, de entre eles, mudanças geográficas e de residência.
Outra solução, segundo a vice-governadora, passa em reforçar as políticas sociais familiares sanitárias e educativas, bem como desenvolver intervenções com equipamentos e serviços de apoio que ajudem a fortalecer os factores de protecção, para que se promova uma educação parental.
Em dois dias, os participantes vão abordar temas ligados as crianças de e na rua da cidade do Lubango, relações familiares e uso de substâncias, a problemática da toxico-dependência no Lubango e causísticas do suicídio na cidade do Lubango 2016-2021.