Benguela – Dezenas de pessoas marcharam este sábado por diversas artérias da cidade de Benguela, para chamar a atenção da sociedade sobre a necessidade de consciencialização acerca do autismo.
Trata-se de pais, familiares, membros do Governo, profissionais de saúde, professores, educadores, terapeutas e sociedade civil, que durante o percurso exibiam cartazes em que se podia ler "Diga não à exclusão, junto somos mais fortes", "Deficiência nem sempre é o que você vê" e "Autismo, eu me importo - mais informação".
Esta acção foi promovida pela Comunidade Autista, Clínica Tchombela Psique, pais e encarregados de educação.
O Autismo (Transtorno do Espectro Autista – TEA) é um problema no desenvolvimento neurológico que prejudica a organização de pensamentos, sentimentos e emoções.
Tem como características a dificuldade de comunicação por falta de domínio da linguagem e do uso da imaginação, a dificuldade de socialização e o comportamento limitado e repetitivo.
Os sinais de alerta surgem nos primeiros meses de vida, mas a confirmação do diagnóstico costuma ocorrer aos dois ou três anos de idade.
Segundo a responsável da Clínica Tchombela Psique , Ana Fernandes, o objectivo desta acção foi despertar a sociedade para não "virar as costas" às crianças e adultos autistas.
“Estamos no Abril Azul, mês que simboliza a consciencialização sobre o autismo, e não queriamos que terminasse sem fazer algo impactante na sociedade, para que as pessoas despertem e percebam que ele existe e que se está a fazer um trabalho muito grande com a comunidade criada”, disse.
A responsável explicou que a comunidade autista tem carácter nacional, pelo que todo pai, mãe ou familiar que tem um parente autista em casa é convidado a fazer parte da mesma, tornando-a maior e mais forte.
Apontou como dificuldade das pessoas com autismo, o acesso ao ensino escolar, a terapia e o acompanhamento profissional. “Sabemos também que vivemos numa sociedade com muitos preconceitos, com problema gravíssimo ainda de aceitação de pessoas com problemas de saúde mental ou outros transtornos", afirmou.
A também psicóloga clínica lamentou que muitas vezes a descriminação começa dentro de casa e só piora fora dela.
“Queremos mentalizar os pais que é necessário aceitar o quanto antes essa condição de saúde e procurar um acompanhamento especializado, com terapeuta, psicólogo e profissionais qualificados para monitorarem estas crianças”, enfatizou.
Para a também membro da comunidade autista, é necessário que o Estado perceba que se deve fazer um trabalho muito grande em termos de formação de professores, devido à inclusão social que estas crianças devem ter.
A responsável defende que as pessoas autistas não devem só estudar no ensino especial e que elas têm o direito de fazê-lo em qualquer escola e de serem bem ensinadas e cuidadas.
A comunidade controla ainda poucos membros, sobretudo crianças, pelo que Ana Fernandes disse que estão a "suplicar" aos pais para que façam parte desta comunidade e se dispam do preconceito e da vergonha.
Explicou que os pais da comunidade ajudam, apoiam e contribuem financeiramente.
De acordo com o Instituto Nacional de Estatística (INE), até 2020, estimava-se a existência de 576 mil angolanos com autismo.
O dia 2 de Abril é o Mundial da Consciencialização do Transtorno do Espectro do Autismo (TEA), instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2007, com o objectivo de contribuir para a redução e erradicação do preconceito ainda existente em relação ao transtorno. CRB