Luanda – O mundo assinalou esta sexta-feira, 8, mais uma edição do Dia Internacional da Mulher, numa altura em que as atenções estão cada vez mais concentradas no equilíbrio do género e na defesa e protecção dos direitos intrínsecos da mulher.
Por António Tavares, jornalista da ANGOP
A efeméride passou a ser encarada não como um mero dia voltado simplesmente para homenagens triviais às mulheres, mas como um convite à reflexão sobre a sua inserção na sociedade aos níveis afectivo, familiar, social e profissional.
Diante desse quadro, o Governo angolano tem reforçado a presença da classe feminina no mercado do trabalho e a elevação da sua voz de liderança, dando-lhe espaço consolidado para expressar as suas ideias, preocupações e visões.
Desde os primórdios da luta armada de libertação nacional que a sociedade angolana tem sofrido inúmeras transformações em que as mulheres se foram destacando em vários domínios, fazendo jus da sua reivindicação de um lugar de paridade com os homens.
Como resultado, granjearam o respeito e a admiração da sociedade, atingiram uma maior aceitação e ocupam, actualmente, as mais variadas funções, inclusive em profissões antes tidas como “tipicamente masculinas”.
Tais ofícios são inúmeros e elas estão sempre atentas à evolução do mercado do trabalho em geral e às tendências do sector em que particularmente trabalham.
Por exemplo, a participação das mulheres no Parlamento na actual legislatura subiu substancialmente em comparação com a legislatura passada, que contava com 56 mulheres do total de 220 assentos, o que correspondia a 26 por cento.
Actualmente, as mulheres são detentoras de 83 assentos na Assembleia Nacional, incluindo o da sua presidência, o que equivale a 37,7 por cento.
Ou seja, pela primeira vez na história política de Angola, o poder legislativo é liderado por uma mulher, tal como a vice-presidência da República e a presidência do Tribunal Constitucional.
Até recentemente, a presidência do Tribunal de Contas era também assegurada por uma mulher.
Há igualmente uma forte presença do género no Governo, sendo as mulheres titulares de nove dos 24 ministérios existentes, 11 secretarias de Estado, cinco governos provinciais e 11 postos de vice-governadora.
Ocupam ainda mais de 40 por cento de cargos e chefias na diplomacia, enquanto na magistratura do Ministério Público este número anda acima dos 30 por cento.
Como os serviços domésticos ainda são atribuídos quase exclusivamente a elas, as mulheres são obrigadas a dividir o seu tempo entre o trabalho de dentro e fora de casa.
As mulheres são as responsáveis por limpar, cozinhar, fazer compras, administrar as contas e cuidar dos filhos, ou ainda, cumprir as jornadas externas do mercado do trabalho.
A maternidade também é outro desafio para as mulheres no mercado do trabalho, porque, além da dificuldade em relação aos horários comerciais, os direitos trabalhistas não dão o suporte necessário para as mulheres.
Para cumprirem as obrigações laborais, são obrigadas a deixar, sempre que necessário, os filhos muito cedo em creches.
Em razão disso, muitas acabam recusando boas propostas de emprego ou deixam de ser promovidas pelo simples facto de se terem tornado mães.
Desafios
Se antes eram atribuídos a elas somente os trabalhos domésticos ou de cuidados como enfermeiras, costureiras, professoras ou cozinheiras, hoje as coisas são bem diferentes, estando presentes em praticamente todos os sectores do mercado.
Muitas já assumem cargos de liderança. Elas estão na política, na engenharia, na ciência e na tecnologia, sendo também protagonistas do próprio negócio, empreendedoras, juízas e doutoras.
Apesar dos direitos já conquistados no mercado do trabalho, ainda há muitos desafios pela frente.
No caso de Angola, 80 por cento dos empregos informais são ocupados por mulheres.
Neste sector, existem poucas barreiras à entrada, pois não se exige tantas qualificações e há baixo investimento, bastando ter alguma habilidade e vontade de trabalhar.
A responsável da organização Liderança Feminina em Angola, Eva Rosa Santos, uma personalidade que luta pela equidade do género, entende que a mulher é uma profissional competente, ética, exigente, presente e amiga, que se esquece demasiadas vezes de cuidar de si, para cuidar apenas dos outros, mas que tem, na maioria das vezes, melhores resultados.
No seu entender, quando está diante de funções de liderança, por vezes fica com medo de assumir essas funções, quer porque acha que não tem as competências requeridas, quer porque não tem a rede de apoio que se lhe é exigido ou ainda receia aceitar a sua vulnerabilidade ou fazer valer a sua voz.
“Quando descobrirem que podem ultrapassar estes medos e serem líderes mais inclusivas, empáticas, orientadas para os resultados, tenho a certeza de que também começaremos a ver mais mudanças”, afirmou.
Do ponto de vista demográfico, disse, em Angola, tal como na maioria dos países em África, as mulheres representam a maioria do rácio populacional, sendo também, na sua maioria, jovens.
História do Dia Internacional da Mulher
Algumas tendências procuram associar a data a certas catástrofes humanas ocorridas, no século passado, sobretudo na cidade de Nova Iorque, nos Estados Unidos.
Mas, segundo a opinião predominante, o Dia Internacional da Mulher não foi criado por influência de uma tragédia, mas por décadas de engajamento político das mulheres pelo reconhecimento da sua causa.
Uma primeira história que ficou muito conhecida como estando na origem desse dia narra que, em 8 de Março de 1857, 129 operárias morreram carbonizadas num incêndio ocorrido nas instalações de uma fábrica têxtil, na cidade de Nova Iorque.
Supostamente, o incêndio teria sido intencional, causado pelo proprietário da fábrica, como forma de repressão extrema às greves e levantes das operárias, pelo que teria trancado as suas funcionárias na fábrica e ateado fogo nelas.
Essa história, contudo, revelou-se falsa e, por isso, sem nenhuma ligação ao 8 de Março.
Uma outra história fala também de um incêndio ocorrido, em Nova Iorque, no dia 25 de Março de 1911, mais concretamente na Triangle Shirtwaist Company.
As causas desse incêndio foram as péssimas instalações eléctricas associadas à composição do solo e das repartições da fábrica e, também, à grande quantidade de tecido presente no recinto, o que serviu de combustível para o fogo.
Além disso, alguns proprietários de fábricas da época, incluindo o da Triangle, trancavam seus funcionários na fábrica durante o expediente como forma de conter motins e greves. No momento em que a Triangle pegou fogo, as portas estavam trancadas.
O incidente vitimou 146 pessoas, das quais 125 mulheres e 21 homens, sendo a maioria dos mortos judeus.
Essa história é considerada como um dos marcos para o estabelecimento do Dia das Mulheres.
Oficialização do Dia Internacional da Mulher
Em 1910, na cidade de Copenhaga, capital da Dinamarca, ocorreu o II Congresso Internacional de Mulheres Socialistas, que foi apoiado pela Internacional Comunista.
Nesse evento, Clara Zetkin, membro do Partido Comunista Alemão, propôs a criação de um Dia Internacional da Mulher, sem, entretanto, estipular uma data específica.
O incêndio de 1911 viria a ser sugerido, nos EUA, como dia simbólico das mulheres (tal como sugerido por Clara Zetkin).
A maioria dos movimentos reivindicavam melhorias nas condições de trabalho nas fábricas e, por conseguinte, a concessão de direitos trabalhistas e eleitorais (entre outros) para as mulheres.
O ano de 1917, na Rússia, foi fortemente marcado pelo ciclo revolucionário que derrubou a monarquia czarista.
Nesse clima de agitação revolucionária, as mulheres trabalhadoras do sector de tecelagem entraram em greve, no dia 8 de Março, e reivindicaram a ajuda dos operários do sector de metalurgia.
Essa data entrou para a história como um grande feito de mulheres operárias e também como prenúncio da Revolução Bolchevique.
Após a Segunda Guerra Mundial, o dia 8 de Março tornou-se aos poucos o símbolo principal de homenagens às mulheres, em virtude da greve das russas.
A partir dos anos 1960, a comemoração do dia 8 de Março já se tinha tornado tradicional, mas foi oficializada pela ONU apenas, em 1975, quando essa organização declarou o Ano Internacional das Mulheres, como uma acção voltada para o combate das desigualdades e discriminação de género em todo mundo.
Como parte desses esforços, a data foi oficializada como o Dia Internacional da Mulher. ART