Luena – O Sindicato dos Enfermeiros de Angola (SINDEA) sugeriu ao Governo o reajuste do salário mínimo atribuído à categoria de admissão (técnico médio de 3ª classe) de 101 para 200 mil kwanzas, com vista a responder os anseios dos profissionais da classe.
Em Angola há três categorias de enfermagem, nomeadamente, auxiliar de enfermagem, que aufere 92 mil kwanzas, técnico médio, cujo ordenado mínimo ronda os 101 mil e o licenciado que está acima dos 252 mil kwanzas.
Em alusão ao Dia do Trabalhador de Saúde, 25 de Setembro, a ANGOP entrevistou o presidente local em exercício do Sindicato dos Enfermeiros de Angola (SINDEA), Alegria Jonito Pedro, que adiantou que a proposta do novo teto salarial consta do Caderno Reivindicativo já em posse do governo desde 2021.
“Não há salário que satisfaz um trabalhador, mas em função do contexto, apresentamos uma proposta de 200 mil kwanzas. A humanização dos serviços faz-se também com melhoria das condições sociais dos profissionais”, argumentou.
Apresentado há já algum tempo, esclareceu que no Caderno Reivindicativo de 14 pontos, o subsídio de acréscimo de horas (horas extras) de trabalho para 48 horas semanais e 192 mensais, é uma das exigências atendidas até agora, regularmente remunerada.
O Caderno Reivindicativo apresentado ao Governo em 2021, previa ainda a exigência do aumento de salários, melhores condições de trabalho, actualização de carreiras, pagamentos de subsídios de isolamento, a falta de alimentação para os profissionais de saúde nas unidades sanitárias, segurança física, entre outras.
O sindicalista está esperançoso que o Governo resolva de forma paulatina as reivindicações dos profissionais sem ter que se recorrer a manifestação de graves.
Rácio enfermeiro/paciente longe do ideal
Alegria Pedro, igualmente presidente da Comissão de Ética e Disciplina do SINDEA, afirmou que um dos problemas da ineficácia da humanização dos serviços de saúde tem que ver com o número reduzido do pessoal de enfermagem na área assistencial.
Elucidou que a recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) passa, por exemplo, numa Unidade de Terapia Intensiva (UTI) por uma quota de um enfermeiro para um paciente.
“Os enfermeiros com pacientes nessa área nevrálgica não pode tirar o olho ao paciente, mas esse princípio só pode ser cumprido se tivermos o número de técnicos exigido por norma, que não é o nosso caso”, desabafou.
Já no caso concreto de uma enfermeira com pacientes que não inspiram cuidados, como a secção de medicina, disse que o ideal é ter-se um enfermeiro para seis pacientes, mas a realidade angolana relatada por esse responsável sindical é que há três enfermeiros para 60 doentes numa pediatria, por exemplo.
Reconheceu haver um esforço “muito grande” dos profissionais de saúde para tratar os pacientes como humano, “porém nós também somos humanos e estamos sujeitos a quebras psicológicas, cansaço mental e físico, face a demanda”.
Sindicato assume moralização na humanização
Apesar da sobrecarga que os profissionais de saúde enfrentam no quotidiano laboral, Alegria Pedro informou que o SINDEA tem encorajado os seus filiados a desempenharem com zelo e dedicação a profissão e transformá-la “numa arte de cuidar humanos”.
Admitiu a existência de profissionais sem vocação que enveredam à classe por interesses meramente económicos, todavia, por estarem já no sistema sanitário, tem recebido formações temáticas sobre a necessidade de se privilegiar o paciente.
Dados oficiais mostram que Moxico tem mais de dois mil enfermeiros distribuídos nos hospitais provinciais, municipais, centros e postos de saúde.
O 25 de Setembro, Dia do Trabalhador de Saúde, homenageia o médico e nacionalista Américo Boavida, que participou activamente na luta de libertação nacional.
A data é também reservada à reflexão, com o sentimento direccionado para a dignidade, dedicação, profissionalismo, ética, orgulho, empenho, compromisso e solidariedade na prevenção e controlo de doenças no país.
