Luanda - Oito mil pacientes com problemas oculares são atendidos mensalmente no Instituto Nacional Oftalmológico de Angola (IONA ), mais quatro mil relação à média registada há três anos, informou hoje, quarta-feira, em Luanda, a directora da unidade hospitalar, Luísa Paiva.
Em declarações à ANGOP, a oftalmologista fez saber que entre os problemas oculares constam cataratas, ametropias, conjuntivites virais e bacterianas, glaucoma, olho seco e tracoma, enquanto que a diabetes leva a realização diária de 50 cirurgias de retina.
A diabetes, segundo a directora, que falava no âmbito do dia mundial da saúde ocular (10 de Julho) é também um dos principais factores de casos de cegueira, seguido da catarata.
Apontou o deficitário saneamento básico e ambiental, como poeiras e águas contaminadas, lixo e mãos sujas como responsáveis por alguns tipos de problemas oculares como a blefarites (um tipo de inflamação das pálpebras ) e conjuntivites.
Só no mês de Maio do corrente ano, prosseguiu, foram realizadas 500 cirurgias de cataratas e mais de 500 exames complementares, adiantando que patologias como do olho seco, actualmente é considerada a doença do século, assim como casos de conjuntivite crônica que podem levar a úlcera da córnea.
Sobre o olho seco, explicou que muitos pacientes ficam bastante tempo defronte ao computador, deixando de pestanejar o que faz com que se desenvolva um ressecamento. “Temos recebido muitos pacientes com os olhos secos e neste momento o que mais prescrevemos são colírios de lágrimas artificiais“, frisou.
A prevenção e o tratamento precoce da visão encontram-se entre as intervenções de saúde mais eficientes e que proporcionam melhores resultados, pois as doenças oftalmológicas estão associadas a diversos factores, incluindo componentes genéticos, estilo de vida e complicações decorrentes de outros agravos.
Sobre o número de quadros, informou que o sector público do país dispõe apenas de 20 médicos oftalmologistas.
Luísa Paiva explicou que o IONA possui 20 especialistas, considerado insuficiente, agravado pelo facto de dois possuírem cargos de direcção.
Adiantou que para desafogar a pressão, é necessário colocar quatro médicos pelas sub-especialidades de retina, glaucoma, seguimento de catarata, córnea e oncologia.
Fez saber que actualmente está lançado um projecto de formação, firmado entre o ministério da Saúde e o Banco Mundial, até 2028 e estão a ser investidos em sub-especialidades em internatos.
"Precisamos de mais profissionais, porque a nossa unidade recebe muitos casos de traumatismos oculares, violência com uso de armas brancas, o que cobra de nós maior entrega“, frisou.
Apesar da falta de especialistas, fez saber que o hospital possui todos os meios de trabalho, sendo a única preocupação da direcção do hospital a aquisição de fármacos, defendendo que deve existir comparticipação do Estado em vários medicamentos, principalmente em fármacos da patologia de glaucoma.
“Um fármaco de glaucoma custa 20 mil kz, e por nós concedermos a custo zero a fila para aquisição no IONA fica enorme, e nem sempre conseguimos corresponder às expectativas", relatou.
Problemas oculares por uso de electrónicos
A médica realçou que o uso frequente e prolongado de telas, como celular, televisão e tablets, pode favorecer o desenvolvimento de distúrbios como miopia, definida pela dificuldade de enxergar o que está distante.
Para as crianças, referiu, a atenção deve ser redobrada, sendo que o uso excessivo dos meios electrónicos está a fazer com que adquiram defeitos de visão, como o estrabismo.
Aconselhou que o tempo de uso diário de telas recomendado varia de acordo com a idade, começando a partir de 2 e 5 anos que deve no máximo de uma hora por dia, com supervisão de adultos. Já para a faixa de 6 a 10 anos, duas horas, também sob orientação, enquanto as crianças e adolescentes de 11 a 18 anos devem reduzir o uso entre 2 a 3 horas por dia, incluindo videogames.
“Está a ocorrer uma epidemia de miopia no mundo e parece que o excesso de telas é um factor importante para isso”, alertou, acrescentando que os oftalmologistas recomendam que pessoas que usam telas com frequência, especialmente no contexto do ambiente de trabalho, devem fazer pausas ao longo do dia, a cada uma ou duas horas de uso do computador.
Para comemorar a data será realizada uma campanha de rastreio visual no lar de idosos beiral, onde estão cerca de 150 residentes. Os que apresentarem problemas de cataratas serão cadastrados para cirurgia.
Sobre a data
O Dia Mundial da Saúde Visual é um chamado para impulsionar a prevenção da cegueira.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) e a Agência Internacional para Prevenção da Cegueira (IAPB) buscam gerar consciência social sobre a importância da prevenção e tratamentos que podem ser aplicados para evitar a perda parcial ou absoluta da visão.
O Dia da Saúde Ocular tem a intenção de alertar a população e os profissionais de saúde para a importância da prevenção e do diagnóstico de doenças oculares que, se não tratadas, podem levar à perda da visão, bem como lembrar a importância de zelar pelos olhos. EVC/PA