Benguela – O mestre em farmácia e química de produtos naturais, Luís Cruz, defendeu, nesta cidade, que é preciso realizar estudos científicos nas universidades sobre o uso das plantas medicinais angolanas, com fortes propriedades preventivas e curativas.
Em declarações à ANGOP, a propósito do potencial da medicina tradicional em Angola, Luís Cruz diz que existe um mercado de plantas medicinais que não está a ser explorado para a parte económica e, nomeadamente, para os investidores.
Para ele, este mercado informal de plantas tem já alguma regulação em Angola, através do Instituto Nacional de Investigação em Saúde e da Associação dos Médicos Terapeutas, mas falta muito estudo de forma a produzir qualidade de vida e trazer desenvolvimento.
Igualmente doutorando em plantas medicinais da província de Benguela, o entrevistado reconhece que as pessoas procuram usar essas plantas para melhorar a saúde porque são baratas e estão à disposição de todos.
Neste quadro, entende que a medicina tradicional tem um saber muito vasto e podia coabitar com a medicina moderna, na medida em que tem plantas com propriedades curativas ainda desconhecidas.
“A medicina tradicional é um conceito que vem de há milhares de anos. E, hoje em dia, a medicina moderna passou à frente e estamos a esquecer essa parte”, referiu, considerando um desafio mudar este cenário.
A seu ver, as pessoas cavam nas matas, transportam, vendem e usam plantas medicinais à margem do controlo do Estado “e assim não se pode melhorar”.
Enorme procura
Da mesma forma, frisou, cada vez que morre um médico terapeuta tradicional, por exemplo, na comuna do Dombe Grande, em Benguela, perde-se uma biblioteca que poderia ensinar aos mais novos.
Com as matas diferentes e menos chuvas, o académico avisa que o país tem vindo a perder "recursos florestais" que poderiam ser valiosos, numa altura em que na Europa, nos Estados Unidos e em outros países, existe uma procura enorme por plantas medicinais.
E considera a famosa planta angolana borututu, indicado para doenças hepáticas, e vendido em toda a Europa, como exemplo de como a medicina tradicional pode contribuir para a economia.
A isto junta-se o óleo de jiboia e outras partes de animais, com a fonte a sustentar que o sangue dos animais também se pode beber para obter ferro mais rápido quando as pessoas têm anemia.
“Enfim, existe uma data na medicina tradicional que não é só plantas”, afiançou, admitindo que a medicina moderna, muitas vezes, rejeita a medicina tradicional, pelo que é preciso estudar sobre o uso destas plantas com as universidades e com as pessoas que dominam esta matéria.
Deu conta de que até a Organização Mundial da Saúde (OMS) já ajudou vários países em África a introduzir medicamentos originários da medicina tradicional e que hoje são usados em todo o mundo.
Ganhos para sociedade
“Não é difícil, mas é moroso. É preciso investir na investigação e a sociedade só tem a ganhar com isso”, reforça Luís Cruz, afirmando que a medicina tradicional deveria ser aproveitada mais e, sobretudo, estudá-la porque “aí é que está a fronteira entre o veneno e a cura”.
O mestre em farmácia e química de produtos naturais diz que, para poder curar alguém, às vezes, é só a dose certa, por isso, se não for estudada, porque é uma ciência muito empírica, a medicina tradicional pode estragar mais do que ajudar.
Segundo ele, muitas pessoas já recorreram ao sistema de saúde moderno e saíram para o tradicional, para tratar doenças de fórum tradicional, como tala, moqueque e londalo, sendo este o potencial da medicina tradicional, pois, poupa tempo e dinheiro.
Por outro lado, disse que a naturopatia ou fitoterapia, apesar de muito antiga, hoje também se usa na medicina moderna e já está a ser estudada na Europa e nos Estados Unidos, onde as pessoas buscam uma qualidade de vida melhor e viver mais tempo. JH/CRB