Cuito - Cidadãos declarados livres da Covid-19, na cidade do Cuito, província do Bié, queixam-se de serem alvos de preconceitos por parte da sociedade, sob pretexto de que podem ainda transmitir a doença a outras pessoas.
“As autoridades da província devem tomar uma posição sobre isso. Penalizar quem assim se comporta”, referiu Juca Manuel Lino, que ficou internado durante 21 dias durante o mês de Outubro de 2020, no centro de tratamento da Cavanga II, na cidade do Cuito.
Em declarações hoje à ANGOP, o jovem de 28 anos, visivelmente entristecido, diz que, quando está num ambiente dentro de uma instituição, ou até mesmo na sala de aula, as pessoas afastam-se.
Por mais que diga que está livre da doença e que não representa perigo algum, os amigos e colegas ainda assim ficam com receio e preferem afastar-se de si, explicou Juca Lino.
Defendeu à necessidade de se difundir mais informações relativas à forma de contágio da pandemia, com vista a elucidar melhor a população, por forma a terminar com esse estigma e descriminação, para poder retornar ao convívio social.
Quanto às condições existentes no centro da Cavanga II, único na província, o estudante universitário do curso de matemática solicitou mais investimentos no local, para melhorar a estadia dos pacientes durante o tratamento, uma vez que a doença ainda prevalece.
Já Henriqueta Nacamia, que ficou internada durante o mesmo período, disse que o único calor que recebeu foi da família, porquanto viu-se isolada dos demais amigos e colegas, por conta do preconceito.
Licenciada em contabilidade e auditoria, disse que as pessoas dramatizam muito a situação da Covid-19, recebem os pacientes curados de maneira muito negativa. “Ainda estão com a ideia de que uma vez infectado, para sempre estará”, notou.
Segundo a também professora, de 27 anos de idade, a convivência com a Covid-19 foi uma experiência aterrorizante, em função dos óbitos que a mesma tem causado pelo mundo. Ainda assim, prosseguiu com o tratamento, firme e convicta, tendo encorajado outros doentes a seguir com a terapia.
Enquanto isso, Iraélia Cristóvão, de 36 anos de idade, prefere ignorar as pessoas preconceituosas, tendo-se mostrado preocupada em apelar a população a cumprir com todas as medidas de biossegurança, para travar a disseminação da doença.
De acordo com a funcionária do Serviço de Migração e Estrangeiro (SME), que esteve 18 dias internada, estar confinada naquele local transmite a cada dia um sentimento de pânico e de muita angústia, por estar longe da família e sem poder receber visitas.
A sua colega de serviço, Beatriz Pestana, admite que o tempo em que conviveu com o vírus serviu-lhe para refletir muito na vida, pelo facto de ser uma experiência difícil.
Por isso, a mestre em pedagogia aproveitou para apelar a população a ter mais disciplina quanto ao cumprimento das medidas de biossegurança.
Sociólogo pede solidariedade
O sociólogo Adilson Luassa, falando a respeito do assunto, apelou a sociedade a solidarizar-se quer com os doentes quer com os recuperados, por considerar que a vida de um só tem valor ao lado dos outros.
“Ninguém contrai a doença por vontade própria, porque todos nós queremos estar bem de saúde, por isso estigmatizar uma pessoa infectada é uma aberração”, exprimiu.
De acordo com ele, as pessoas têm dignidade, integridade e respeito próprio, por isso merecem toda a consideração.
O sociólogo aconselha os cidadãos a fazerem uma destrinça entre a pessoa doente e a doença, para poderem amar o próximo. Caso contrário, disse, estarão a combater simultaneamente a doença e a pessoa doente.
Governo reitera apelo à sociedade na luta contra Covid-19
O Governo da Província do Bié reiterou o apelo a todas as forças vivas da sociedade, no sentido de reforçarem a sensibilização e mobilização da população ao cumprimento das medidas de biossegurança da Covid-19, com vista a reduzir o contágio da doença.
Na I Reunião Ordinária do Governo da Província, realizada sexta-feira, o Executivo provincial pediu as instituições da sociedade civil que sejam o exemplo na luta contra a Covid-19, incentivando as famílias a valorizarem as normas de prevenção.
Para tal, o governo da província recomendou às administrações municipais e os distintos gabinetes provinciais a implementação de estratégias que contribuam para o combate à pandemia nas empresas.
São medidas importantes e violadas com frequência nas empresas a nível da província o uso obrigatório de máscaras, lavagem das mãos com água e sabão ou desinfecção das mãos com álcool gel, distanciamento físico e outros.
A província do Bié regista 153 casos positivos, sendo 74 activos, 78 recuperados e um óbito.