Luanda – O nacionalista Diogo Ventura, integrante do conhecido “Processo 50”, referiu-se, esta segunda-feira, ao acto praticado pelos patriotas na madrugada de 4 Fevereiro de 1961 como tendo sido de grande coragem e solidariedade para com os presos políticos.
Em entrevista exclusiva à ANGOP, Diogo Ventura valorizou o facto destes nacionalistas terem exposto as suas vidas para invadirem as cadeias da capital nestes ataques.
Deu a conhecer que, a partir da cadeia da Casa de Reclusão, onde na altura se encontrava preso, aperceberam-se que o cenário era de confusão, ao ver as fardas dos saldados colónias manchadas de sangue, quando estes fossem abrir as celas.
Face a situação, durante algum tempo ficaram sem recreios mesmo sem saber as razões, só lhes era permitido sair das celas para fazer a higiene e tomaram as refeições.
Passados um mês, de acordo com Diogo Ventura, voltaram a sair com regularidade e ai foram apercebendo-se, através da insatisfação dos soldados, de que teriam existido ataques por iniciativa de outros compatriotas para os libertarem.
Informou que para além de atacarem a Casa Reclusão, estes nacionalistas invadiram também a 4ª Esquadra (actual Unidade de Reacção e Patrulhamento da Polícia Nacional), tentaram atacar o Aeroporto L20 e surpreenderam uma viatura da patrulha da polícia portuguesa junto a PIDE (actual Hospital Prisão de São Paulo), no qual mataram todos os ocupantes e queimaram o carro.
Frisou que a luta de armas foi uma clara demonstração de que a luta política iniciada em 29 de Março de 1959, com reuniões clandestinas, elaboração de documentos e distribuição de panfletos para incentivar o fim da escravidão colonial e a liberdade, teve continuidade, mesmo depois de muitos terem sido presos pela polícia portuguesa, dando lugar a luta armada 4 de Fevereiro.
Avançou que o julgamento em que esteve envolvido, com outros companheiros, por elaboração de documentos que denunciava a péssima postura dos portugueses para com os donos da terra e nos quais solicitavam apoio para o alcance da liberdade, foi divulgado pelo Jornal A Província de Angola.
Tal divulgação, disse, permitiu ao padre Joaquim Pinto de Andrade encaminhar um dos exemplares para o seu irmão, Mário Pinto de Andrade, que na altura trabalhava em França, que fez uma brochura que enviou para ONU.
No folheto, de acordo com Diogo Ventura, o nacionalista desmascarou a situação vigente, contrariado o governo português que dizia que não tinha colónias, mas sim províncias ultramarinas.
Informações que contrariavam a realidade, visto que naquele período ocorria julgamento de pessoas que clamavam pela liberdade ou independência.
De forma explicativa, disse que, em Novembro de 1959, chegava à Luanda António Agostinho Neto, já formado em medicina e casado, que encontrando as confusões, juntou-se aos integrantes do MINA, colectivo que tinha como responsável o nacionalista Manuel Pedro Pacavira, tendo com Mário Pinto de Andrade criado o núcleo do MPLA, em Luanda.
Salientou que é neste mesmo ano, 1959, mas precisamente a 29 de Março, que foi criado o seu grupo, denominado “Espalha Brasa, cuja objectivos de luta política eram os mesmos.
Com a criação do pequeno grupo político, em Junho de 1960 enviaram uma delegação para o Congo para assistirem à proclamação da independência daquele país, tendo a missão dos mesmos sido abortada pela PIDE na zona de Sanza Pombo e culminado com prisão.
Daí que, de acordo com o também antigo deputado, o sentimento foi de satisfação quando tomaram conhecimento que mesmo presos, outros compatriotas deram continuidade da luta por eles iniciadas.
O ataque às cadeias a 4 de Fevereiro de 1961, por nacionalistas como Imperial Santana, Paiva Domingos da Silva, Pedro Van Dúnem, Neves Bendinha, entre outros, segundo o nacionalista Diogo Ventura, constitui surpresa para os portugueses, ainda mais por terem na sua maior empunhado catanas.
Salientou que durante o julgamento, tomaram conhecimento que Cónego Manuel das Neves chegou a ser preso, por ter sido um dos impulsionadores, referindo que na mesma época foi também preso, o Cardeal Dom Alexandre do Nascimento, na altura padre.
Defendeu que os integrantes do 4 de Fevereiro, a exemplo do que têm feito os do “Processo 50”, devem escrever mais para que as novas gerações conheçam a história deste período da luta pelo alcance da independência nacional.
Asseverou que o “Processo 50” e o 4 de Fevereiro são fases da mesma luta, por isso considera que as suas abordagens não devem ser separadas e devem ter aceitação como têm todos os outros processos, tendo citado o 4 de Janeiro e 15 de Março.
Para o integrante do “Processo 50”, que no próximo mês de Março vai completar 66 anos, valeu a pena envolverem-se na luta política ao lado de outros nacionalistas, visto que confirma aquilo que era a intenção da geração que os antecedeu, a conquista da liberdade, para o alcance da independência nacional e a paz.
O “Processo 50” ficou notável, pelo facto de mais de 50 indivíduos começarem a ser presos a partir de 29 de Março de 1959, por envolvimento em acções políticas clandestinas, que deram lugar a instauração de três processos judiciais. LDN/SC