Díli - O secretário-geral da Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin), Mari Alkatiri, considerou hoje que o país não está preparado para ter uma relação económica e comercial com os outros membros da ASEAN de igual para igual.
Em entrevista à agência Lusa a propósito dos 25 anos do referendo que levou à independência de Timor-Leste, em 30 de Agosto, o líder da Fretilin referiu que o mais importante é o país definir o que quer da Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN).
Mari Alkatiri defendeu que a organização regional deve ser "uma das plataformas da globalização de Timor-Leste" e que o país integrado na ASEAN "podia desempenhar um papel crucial na relação com a CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa)".
"Nós somos um país pequeno, mas somos um país privilegiado em termos de geopolítica e isto deve ser entendido não só politicamente, mas deve ser fundamentalmente entendido também económica e financeiramente, comercialmente", referiu.
O líder da Fretilin considerou que é necessário ter "esta visão globalizada", mas que para isso é preciso "desenvolver infra-estruturas": "Quando se é membro da ASEAN há muitas reuniões que têm de ser feitas aqui, qual é o hotel que pode albergar uma reunião dessas? Nenhum", disse.
Segundo ele, quer queira quer não, o objectivo de aderir à ASEAN é meritório, mas tem de estar preparados, mas agora dizer que não precisa da ASEAN não aceito.
“Com a ASEAN ou sem a ASEAN, economicamente temos de nos relacionar com eles, sendo membros ou não, e sendo membros temos essas regras do jogo mais claras", referiu.
Sem essas regras, defendeu, "é tudo selvagem", o que faz com que Timor-Leste esteja a ser "palco de tráficos de muitas categorias".
O líder do principal partido da oposição deu como exemplo a recente apreensão de 42 milhões de dólares roubados através de e-mail fraudulento e que foram depositados numa conta bancária em Timor-Leste.
"Como é que há um banco central que consegue saber exactamente quanto dinheiro é que entra em qualquer banco em Timor-Leste e não conseguiu detectar que um certo banco tinha recebido 40 e tal milhões de dólares de outro destino. Se não fosse a Interpol a avisar-nos, a esta hora já tinham esvaziado o dinheiro", disse.
Timor-Leste foi admitido na ASEAN por unanimidade pelos 10 Estados-membros em Novembro de 2022, mas ainda com estatuto de observador e sem poder de veto.
Em Maio de 2023, a organização aprovou um roteiro, em conjunto com Timor-Leste, para a adesão total, prevista para 2025, que inclui a preparação de recursos humanos, construção de infra-estruturas e a adopção de acordos da organização.
O secretário-geral da ASEAN, Kao Kim Hourn, reafirmou em Abril o compromisso de trabalhar com Timor-Leste para que o país se possa tornar membro pleno num futuro próximo.
Quer-se trabalhar com Timor-Leste em diferentes níveis para finalizar a adesão o mais rapidamente possível", afirmou, após um encontro com o Presidente timorense, José Ramos-Horta, durante a visita oficial que realizou ao país.
A ASEAN foi fundada 1967 para promover a cooperação económica, política, social e cultural e garantir a estabilidade e o desenvolvimento da região.
Os Estados-membros são o Brunei, Cambodja, Indonésia, Laos, Malásia, Myanmar, Filipinas, Singapura, Tailândia e Vietname, o último país a juntar-se à organização, em 1995. CQ/GAR