Damasco - Um grande e raro mosaico bem conservado, que remonta à época romana, foi descoberto na Síria, com as autoridades locais a descreverem-no como o achado arqueológico mais importante desde o início do conflito no país, há 11 anos.
O mosaico, descoberto na cidade de Rastan, no centro, perto de Homs, a terceira maior cidade da Síria, foi mostrado aos jornalistas esta quarta-feira.
O achado, com 120 metros quadrados, foi encontrado num prédio antigo onde a Direcção Geral de Antiguidades e Museus da Síria estava em escavação.
Empresários libaneses e sírios do Museu Nabu, do país vizinho, compraram a propriedade que data do século IV e doaram o prédio ao Estado sírio.
Cada painel está preenchido com pequenas pedras coloridas em forma de quadrado, que medem cerca de meia polegada de cada lado, ou seja, pouco mais de um centímetro.
Humam Saad, director associado à escavação e investigação arqueológica, explicou que entre as cenas expostas no mosaico está um retrato raro de antigas guerreiras amazonas da mitologia romana.
"O que está à nossa frente é uma descoberta rara à escala global", sublinhou Saad à agência Associated Press (AP), acrescentando que as imagens são "ricas em detalhes" e incluem cenas da Guerra de Troia, entre gregos e troianos.
Na mitologia grega e romana antiga, o herói semideus Hércules matou Hipólita, rainha das amazonas, num dos seus 12 trabalhos.
O mosaico também retrata Neptuno, antigo deus romano do mar, e 40 das suas amantes.
"Não podemos identificar o tipo de edifício, se é um balneário público ou qualquer outra coisa, porque ainda não terminamos a escavação", referiu Saad à AP.
Sulaf Fawakherji, uma atriz famosa na Síria e membro do conselho de administração do Museu Nabu, revelou que espera que seja possível comprar outros edifícios em Rastan, destacando que a localidade está repleta de patrimónios e artefactos à espera de serem descobertos.
"Existem outros edifícios, e está claro que o mosaico se estende muito mais. Rastan historicamente é uma cidade importante e poderia ser uma cidade patrimonial muito importante para o turismo", realçou Fawkherji à AP.
Apesar da importância histórica de Rastan no país, Saad apontou que não existiram esforços significativos de escavação na cidade antes do conflito armado no país.
"Infelizmente, houve grupos armados que tentaram vender o mosaico numa determinada altura de 2017 e listaram-no em plataformas de redes sociais", frisou.
Patrimónios sírios foram saqueados e destruídos na última década de conflito violento e que ainda está em curso.
Entre os incidentes mais notáveis está a tomada pelo grupo terrorista Estado Islâmico de Palmyra, Património Mundial da UNESCO que possui colunatas da era romana de 2.000 anos e artefactos inestimáveis, além da destruição parcial de um teatro romano.
Enquanto isso, o governo da Síria, sem dinheiro, tem vindo a reconstruindo lentamente o bazar secular de Aleppo, depois de recuperá-lo das forças armadas da oposição em 2016.
Rastan já foi um grande reduto da oposição e foi um ponto de intensos confrontos, antes do governo sírio ter recuperado a cidade em 2018.
Desencadeada pela repressão às manifestações pró-democracia em 2011, a guerra na Síria já matou cerca de 500.000 pessoas, devastou a infra-estrutura do país e deslocou milhões de pessoas.