Moscovo - A Rússia vai boicotar os Óscares, os maiores e mais reconhecidos prémios do cinema mundial, numa decisão que aumenta ainda mais a insolação cultural criada pela guerra na Ucrânia.
“ É a primeira vez que o país não vai apresentar qualquer filme para a consideração da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas norte-americana desde o final da Guerra Fria, e a queda da União Soviética”
Num comunicado, citado pelo The Guardian, a academia russa anunciou a decisão, sem explicar os motivos.
O boicote não foi bem acolhido pelo director da Academia Russa de Cinema, Pavel Chukray, que, numa carta publicada pela agência estatal TASS, revelou o seu descontentamento com a decisão.
"A liderança da academia decidiu unilateralmente não nomear um filme russo para as nomeações dos Óscares", afirmou Chukray, acrescentando que a medida era "ilegal" e que foi tomada "nas suas costas".
No mesmo comunicado, o director apresentou a sua demissão da academia russa.
A Rússia tem um forte histórico na categoria de Melhor Filme em Língua Estrangeira, vencendo em 1994 e sendo nomeado em 2014 e 2017.
O director Nikita Mikhalkov, que realizou o filme 'Burnt', vencedor do galardão em 2014, tem sido um forte defensor do Kremlin (Presidência russa) e da invasão na Ucrânia, argumentando numa entrevista à TASS que a Rússia pouco ganha em enviar filmes aos Óscares. Ao invés, propõe um concurso entre países da antiga União Soviética.
Em 2014 e 2017, Andrey Zvyangintsev foi o diretor responsável pelos filmes que conquistaram nomeações em 2014 e 2017, 'Leviathan' e 'Loveless' respetivamente. Os filmes abordaram problemas sistémicos na Rússia, especialmente a corrupção e o poder da Igreja Ortodoxa na política russa, causando algum alvoroço em Moscovo.
A guerra na Ucrânia tem tido algumas repercussões na cultura pelo mundo fora, com algumas orquestras e salas de espetáculos a cancelarem concertos envolvendo compositores russos, como Tchaikovsky, Rachmaninoff e Rimsky-Korsakov; e algumas livrarias foram acusadas de censurar autores russos como Tolstoi e Dostoievski, ao retirar os livros destes escritores das prateleiras.
Alguns denunciaram a reacção cultural à guerra, com algumas instituições culturais a acabarem por remover obras de arte de autores russos cujos temas demonstravam, precisamente, os problemas no interior da sociedade e do estado russos.