Nova Iorque - A relatora da ONU para o impacto das sanções unilaterais nos direitos humanos, Alena Douhan, avisou hoje para os riscos destas medidas no sistema de saúde de Cuba e no sistema educativo da Nicarágua.
"A comunidade internacional deve agir com cautela, porque Cuba é muito dependente da ajuda da ONU em termos de medicamentos, alimentos, leite em pó, e não é normal que um país tenha de sobreviver com base nisso" disse a especialista de origem bielorrussa, durante uma conferência de imprensa.
Douhan argumentou que os avanços na saúde cubana são evidentes nos níveis de esperança de vida na ilha, no desenvolvimento dos sistemas de prevenção e nas campanhas de vacinação, "mas é claro que nem tudo pode ser produzido por Cuba, a começar pelos equipamentos e matérias-primas para medicação".
A relatora participa esta semana num debate no Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas onde apresentou um relatório sobre o impacto das sanções unilaterais nos sistemas de saúde dos países sancionados, fazendo menções especiais aos casos de Cuba e da Nicarágua.
Relativamente a Cuba, Douhan alertou para o risco de as sanções afectarem empresas farmacêuticas, de seguros e mesmo organizações humanitárias, que "não devem ser alvos de qualquer tipo de punição (...) pelos seus esforços".
A relatora das Nações Unidas apelou ainda à prudência na imposição de sanções contra instituições educativas na Nicarágua, quando outros especialistas recomendaram este tipo de medidas.
"Sou professora e conheço o terrível impacto das sanções unilaterais neste domínio, que acabam por afectar um país inteiro, incluindo estudantes nas escolas e estudantes nas universidades", argumentou a relatora de origem bielorrussa, durante uma conferência de imprensa.
"Quando são impostas sanções às instituições de ensino, toda a cooperação com as mesmas fica paralisada, incluindo a possibilidade de continuidade de projetos de investigação, acesso a plataformas e bases de dados internacionais, até conferências 'online'", defendeu Douhan.
"Afectar essa parte da cultura de um país é absolutamente inadmissível e imoral", acrescentou Douhan, que esclareceu que ainda não pôde viajar pessoalmente à Nicarágua para conhecer o impacto no país das sanções unilaterais de países como os Estados Unidos.
Na quarta-feira, o presidente do Grupo de Peritos em Direitos Humanos na Nicarágua, Jan-Michel Simon, recomendou o aumento das sanções da comunidade internacional às instituições nicaraguenses que violem o direito à educação das crianças dentro e fora do país.
Simon deu como exemplos de instituições que poderiam estar sujeitas a estas sanções os ministérios da Juventude e o da Educação, bem como o Conselho Nacional de Universidades da Nicarágua.
No relatório mais recente deste grupo de trabalho, criado a pedido do Conselho de Direitos Humanos, critica-se o facto de estas instituições negarem a muitos estudantes nicaraguenses exilados diplomas comprovativos dos seus estudos, o que os impede de continuar a sua formação no estrangeiro.