Ancara - O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, considerou esta quarta-feira o Hamas um "grupo de libertação" e não uma organização terrorista, e anunciou que cancelou planos para visitar Israel.
"O Hamas não é uma organização terrorista, mas um grupo de libertação que luta para proteger a sua terra e os seus cidadãos", disse Erdogan durante uma reunião do partido governamental no parlamento de Ancara.
Israel, Estados Unidos, Reino Unido e União Europeia qualificam o grupo islamita palestiniano Hamas como uma organização terrorista.
Erdogan atacou as potências ocidentais "que choram por Israel e não fazem mais nada", acusando-as de hipocrisia.
"O facto de aqueles que mobilizaram o mundo a favor da Ucrânia não se pronunciarem contra os massacres em Gaza é o sinal mais flagrante da sua hipocrisia", afirmou.
O Hamas, que controla a Faixa de Gaza desde 2007, lançou um ataque sem precedentes em território de Israel em 7 de Outubro, que causou mais de 1.400 mortos, segundo as autoridades israelitas.
Os comandos do grupo também raptaram duas centenas de israelitas e estrangeiros que mantêm como reféns na Faixa de Gaza, um pequeno território palestiniano com 2,3 milhões de habitantes.
Israel declarou guerra ao Hamas após o ataque e tem bombardeado Gaza desde então, com um saldo de mais de 6.500 mortos, de acordo com o mais recente balanço divulgado pelo grupo islamita.
"Quase metade dos mortos pelos ataques de Israel a Gaza são crianças", denunciou Erdogan.
Num discurso violento, o líder turco acusou Israel de "brutalidade premeditada para cometer crimes contra a humanidade".
"Os ataques a Gaza revelam a existência de assassinatos e de doenças mentais entre os que os executam e os que os apoiam", afirmou, citado pelas agências internacionais.
Erdogan encontrou-se pela primeira vez com o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, em Setembro, em Nova Iorque, no âmbito de uma aproximação entre os dois países.
"Apertei a mão a este homem, tínhamos boas intenções, mas ele abusou de nós. As relações poderiam ter sido diferentes, mas infelizmente isso não voltará a acontecer", afirmou.
O chefe de Estado turco disse que tinha planos para visitar Israel, mas que os cancelou devido ao comportamento do exército israelita.
"Não iremos", garantiu.
Erdogan disse que não é possível encontrar "outro Estado cujo exército se comporte de forma tão desumana", referindo-se aos bombardeamentos israelitas contra Gaza na sequência do ataque do Hamas.
"Não temos problemas com o Estado de Israel, mas nunca aprovámos as atrocidades cometidas por Israel e a forma como actua como uma organização e não como um Estado", afirmou.
Erdogan apelou ainda para a fundação de uma "Palestina independente" e para a realização de uma conferência entre Israel e os palestinianos, propondo que a Turquia actue como garante de qualquer acordo futuro.
Logo a seguir ao ataque do Hamas, Erdogan, apoiante da causa palestiniana, alertou Israel para os riscos de um ataque indiscriminado contra civis na Faixa de Gaza, durante uma conversa telefónica com o homólogo israelita, Isaac Herzog.MOY/DSC