Genebra - A ONU acusou hoje Israel de impedir a entrada na Faixa de Gaza de caravanas humanitárias de distribuição de alimentos.
"As entregas de alimentos coordenadas pela ONU têm muito mais probabilidades de serem obstruídas ou de lhes ser negado o acesso (...) do que qualquer outra missão humanitária", afirmou o porta-voz do Gabinete de Coordenação dos Assuntos Humanitários da ONU (OCHA), em Genebra, Jens Laerke.
Isto significa que "os comboios de alimentos que deveriam dirigir-se especialmente para o norte, onde 70% da população enfrenta condições semelhantes às da fome, têm três vezes mais probabilidades de ver recusado o acesso do que outros comboios humanitários", indicou.
Israel está sob crescente pressão internacional para permitir a entrada de mais ajuda na Faixa de Gaza, cuja população está ameaçada de fome seis meses após o início da guerra.
O Cogat, organismo do Ministério da Defesa israelita responsável pelos assuntos civis palestinianos, afirmou hoje na rede social X (antigo Twitter) que 741 camiões de ajuda foram inspeccionados e entraram na Faixa de Gaza "nos últimos dois dias".
"Apenas 267 camiões de ajuda foram distribuídos pelas agências de ajuda das Nações Unidas dentro de Gaza (146 dos quais transportavam alimentos)", acrescentou.
Laerke argumentou que estas comparações "não fazem sentido", por várias razões.
"Em primeiro lugar, os camiões controlados pela Cogat estão geralmente apenas meio cheios. Trata-se de um requisito que eles impuseram", afirmou, acrescentando que depois de inspeccionados, estes camiões são reabastecidos pela Nações Unidas para mais de metade, pelo que é normal que "os números nunca coincidam".
"Em segundo lugar, contar e comparar diariamente os camiões inspeccionados e a ajuda entregue "faz pouco sentido, porque não tem em conta os atrasos que se verificam" entre estas duas fases, acrescentou.
Os atrasos são provocados, nomeadamente, pelos horários de abertura dos pontos de passagem e pelo facto de Israel exigir que "os condutores e camiões egípcios nunca possam estar na mesma zona ao mesmo tempo que os condutores e camiões palestinianos" que recolhem as mercadorias, sublinhou.
Na semana passada, Israel anunciou que iria permitir a entrega "temporária" de ajuda a Gaza através do porto israelita de Ashdod, 40 quilómetros a norte de Gaza, e da passagem de Erez, no sul do país.
Israel iniciou uma ofensiva militar contra a Faixa de Gaza em 07 de Outubro, após o grupo islamita palestiniano Hamas ter atacado o sul do território israelita e provocado cerca de 1.200 mortos e sequestrado mais de duas centenas de pessoas.
A ofensiva israelita na Faixa de Gaza já provocou mais de 33.300 mortos, segundo o Ministério da Saúde do Hamas, que governa o pequeno enclave palestiniano desde 2007. MOY/JM