Viena - O Irão continua a produzir urânio que pode ser usado em bombas nucleares, indicou hoje (terça-feira) a Agência Internacional de Energia Atómica fornecendo informações que podem afectar as negociações com vista à recuperação do acordo internacional de 2015.
O último relatório da Agência Internacional de Energia Atómica foi distribuído hoje (terça-feira) em Viena aos representantes dos países que tentam restabelecer o acordo internacional sobre o programa nuclear iraniano.
O director-geral do organismo das Nações Unidas, Rafael Mariano Grossi, refere que os inspectores da agência "confirmaram" no sábado que o Irão produziu 200 gramas de urânio enriquecido até 20%.
Grossi tinha indicado em Fevereiro que os inspectores da Agência Internacional de Energia Atómica tinham detectado a produção de urânio enriquecido (3,6 gramas) produzido na central iraniana de Isfahan.
A produção está proibida pelo acordo de 2015 (Joint Comprehensive Plan of Action - JCPOA) que previa, entre outros aspectos, incentivos económicos ao Irão em troca de limitações ao programa nuclear, para impedir o desenvolvimento de uma bomba nuclear.
O Irão insiste que não está interessado na produção de armamento nuclear e que a produção de urânio está enquadrada no programa civil.
Os países europeus que constituem o JCPOA disseram, no princípio do ano, que estavam "muito preocupados" com a produção de urânio, sublinhando que o Irão não tem necessidades civis deste material e que o programa de Teerão tem como objectivo o "desenvolvimento de uma arma nuclear".
Os Estados Unidos abandonaram em 2018, durante a Administração Trump, o acordo de forma unilateral, argumentando ser necessária uma renegociação.
Desde 2018 que o Irão tem violado o acordo, pressionando ao mesmo tempo os restantes signatários do tratado (Alemanha, França, Reino Unido, Rússia e China) contra as sanções económicas que os Estados Unidos voltaram a impor ao país.
Os países europeus, a Rússia e a República Popular da China têm desenvolvido esforços para preservar o acordo original.
O Presidente norte-americano, Joe Biden, garantiu que os Estados Unidos querem recuperar o acordo sob a condição de o Irão respeitar as restrições.
Teerão impõe como condição a retirada das sanções por parte dos Estados Unidos.
A última reunião, realizada em Junho em Viena, não alcançou resultados e a nova ronda ainda não tem uma data marcada.
Na sequência dos relatórios da Agência Internacional de Energia Atómica sobre a produção de urânio, o porta-voz do Departamento de Estado norte-americano, Ned Price, disse que as ações do Irão "não são construtivas".
"O Irão não tem necessidades credíveis para produzir urânio, que tem uma relevância directa com o programa de armamento nuclear", afirmou Price.
"Tais escaladas não vão proporcionar ao Irão poder de negociação nas conversações no sentido do regresso ao cumprimento do JCPOA e apenas levam a um maior isolamento do Irão", disse.
"Os avanços do Irão influenciam a nossa visão de regresso ao JCPOA", acrescentou, sugerindo que os Estados Unidos podem voltar à pressão.
"Não estamos a impor um prazo para o fim das negociações, mas essa “janela de oportunidade' não vai ficar aberta indefinidamente", alertou Ned Price.