Copenhaga - O chefe da diplomacia dinamarquesa, Jeppe Kofod, admitiu hoje (quinta-feira) que a Dinamarca poderá aderir à política de defesa comum europeia em Julho, após dois terços dos eleitores terem votado a favor da medida.
Num referendo realizado na quarta-feira, 66,9% dos dinamarqueses votaram a favor do abandono da política de "opt-out", que manteve a Dinamarca fora da Política de Defesa Comum da União Europeia (UE) durante 30 anos, contra 33,1%.
Kofod disse esperar que a Dinamarca possa aderir a partir de 01 de Julho, depois de ultrapassar alguns passos formais, incluindo a aprovação do resultado do referendo pelo parlamento, noticiaram as agências EFE e AP.
A taxa de participação no referendo foi de 65,6%, segundo as autoridades eleitorais.
O principal efeito do fim do 'opt-out', que desde 1993 mantém a Dinamarca fora desse domínio das políticas comuns, é que Copenhaga passa a poder participar em áreas relacionadas com a defesa e segurança do bloco comunitário e em hipotéticas operações militares da UE.
O resultado do referendo é visto como o exemplo mais recente de um país europeu que procura laços de defesa após a invasão russa da Ucrânia, depois de Suécia e Finlândia terem revertido a sua política de não-alinhamento e pedido a adesão à OTAN.
A primeira-ministra dinamarquesa, Mette Frederiksen, disse na quarta-feira à noite que a Dinamarca enviou um "sinal claro" aos seus aliados e ao Presidente russo, Vladimir Putin.
"Estamos a mostrar que quando Putin invade um país livre e ameaça a estabilidade na Europa, os restantes unem-se", disse Frederiksen.
Numa declaração divulgada hoje de manhã, o chefe da diplomacia da UE, Josep Borrell, saudou a "decisão histórica" da Dinamarca de reforçar a cooperação em matéria de defesa no seio da União Europeia.
"O povo dinamarquês falou. Decidiu abolir o 'opt-out' de 30 anos da UE relacionado com a defesa", disse Borrell numa declaração citada pela EFE.
Borrell considerou que a decisão trará "mais força e unidade" às iniciativas de defesa europeias e à política comum de segurança e defesa, "numa altura em que é mais imperativo do que nunca que a UE e os seus Estados-Membros reforcem as suas capacidades de defesa e a sua capacidade de acção", numa alusão à guerra na Ucrânia.
"Assim que o Governo dinamarquês tiver informado formalmente os outros Estados-membros da UE da sua decisão, em conformidade com as suas disposições constitucionais, estamos prontos a tomar rapidamente todas as medidas necessárias para assegurar que a Dinamarca possa participar plenamente em todos os aspectos" da política comum da defesa, acrescentou.
A Dinamarca é um dos 12 países fundadores da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), que conta actualmente com 30 membros.
A eliminação pela primeira vez de uma das quatro derrogações mantidas pela Dinamarca da política comum tem um forte conteúdo simbólico num país que, embora tenha aderido à então Comunidade Económica Europeia (CEE) já em 1972, sempre teve receio de perder a soberania.
A Dinamarca foi o único país numa UE a 12 que não aprovou o Tratado de Maastricht em 1992.
Confrontada com a ameaça de um bloqueio, acabou por apoiar o Tratado de Maastricht num outro referendo um ano mais tarde, com um modelo que incluía excepções na união monetária e económica, defesa, cooperação policial e jurídica e cidadania.
Os dinamarqueses também rejeitaram em dois referendos, em 2000 e 2015, a adesão ao euro e a abolição da excepção legal.
Putin disse que a "operação militar especial" na Ucrânia, como é designada por Moscovo, se destinava a "desmilitarizar e desnazificar" o país vizinho da Rússia.
Semanas antes da invasão, a Rússia exigiu à OTAN garantias de que a Ucrânia nunca faria parte da organização e a retirada das forças aliadas para as fronteiras anteriores ao alargamento da aliança Atlântica a países da antiga União Soviética.
A OTAN recusou tais exigências.