Lima - As lideranças do Congresso peruano iniciaram uma reunião de emergência, neste domingo (15), em busca de uma saída para a crise política que eles próprios desencadearam ao afastarem o então presidente Martín Vizcarra, colocando em seu lugar o líder da Casa, Manuel Merino.
A situação política no Peru é "insustentável", depois da violenta repressão às manifestações em massa contra Merino, que deixaram pelo menos dois mortos e 112 feridos.
Há divergência nos números: enquanto a Polícia fala em dois mortos, a Coordenadoria Nacional de Direitos Humanos investiga se foram, na verdade, quatro.
Os manifestantes pedem a "renúncia imediata" de Merino, conforme reivindicado nas ruas desde terça-feira. Agora, aparentemente, a demanda conta com o apoio de várias bancadas parlamentares, cuja imagem ficou muito deteriorada após o julgamento relâmpago de Vizcarra, um presidente muito popular.
"O Congresso deve pedir desculpas ao país por uma decisão tão irresponsável (de remover Vizcarra)", disse a legisladora Mirtha Vásquez, da Frente Amplio, uma das 19 integrantes do Parlamento que votaram contra a remoção, ao chegar neste domingo à reunião das bancadas.
A imprensa peruana especula que as lideranças estão a discutir maneiras de retirar Merino constitucionalmente do comando e nomear, em seu lugar, um dos 19 que votaram contra a saída de Vizcarra.
Dez dos 18 ministros do gabinete de Merino renunciaram na noite de sábado, após a violenta repressão dos multitudinários protestos contra o actual governo em Lima e em outras cidades do país.
A acção policial tem sido duramente questionada pela ONU e por organizações de direitos humanos, como a Amnistia Internacional, desde que começaram os protestos na terça-feira. Foi nesse dia que Merino assumiu o cargo.
Até alguns jogadores da selecção peruana de futebol, concentrados para enfrentar a Argentina em Lima na próxima terça-feira pelas eliminatórias para a Copa do Mundo Qatar-2022, publicaram nas redes sociais pedidos para que Merino recue.
"Chega", escreveu o meia Renato Tapia.
O prefeito de Lima, Jorge Muñoz, do Partido Acção Popular, o mesmo de Merino, também exigiu a sua saída.
Merino, um político provinciano de 59 anos, quase desconhecido dos peruanos até assumir o cargo, não comentou as críticas à violenta repressão policial no sábado, nem os apelos por sua renúncia.