Huambo – A cantora Teresa da Cruz Mangenge, de nome artístico “Tchinina”, foi homenageada hoje, terça-feira, no primeiro Festival da Canção da Mulher Africana, realizado no Huambo, pelo seu contributo no desenvolvimento da música local.
Com mais de 50 anos de carreira profissional, "Tchinina" é tida como a primeira mulher que, na época colonial, fez ouvir a sua melodia em língua nacional Umbundo, em Angola e no exterior.
O evento, uma iniciativa do colectivo de artes "Vozes D´África", em parceria com os gabinetes da Cultura, Turismo, Juventude e Desportos e da Acção Social, Família e Igualdade do Género, enquadrou-se nas comemorações do Dia da Mulher Africana, assinalado a 31 de Julho último.
A governadora da província do Huambo, Lotti Nolika, prestigiou o acto, abrilhantado por artistas da praça local, tendo destacado o percurso artístico de "Tchinina", que permitiu o desenvolvimento e a internacionalização da música do Planalto Central, cantada em Umbundo.
Lotti Nolika adiantou que "Tchinina" elevou, ao mais alto nível, a música da região e do país, um contributo fundamental no âmbito da valorização e preservação da cultura nacional.
A cantora, de 70 anos de idade, agradeceu o gesto, por representar a valorização e o reconhecimento do seu contributo, para o desenvolvimento da música angolana.
Natural do município do Ukuma (província de Huambo), foi em Malanje onde começou a dar os primeiros passos no mundo da música, depois de se juntar ao conjunto "Ndimba Ngola" que, na altura, estava em digressão prolongada, num espectáculo realizado no Atlético Clube local.
Depois da digressão, parte do Dondo para Luanda, em 1972, onde conhece, através do cantor e compositor Dominguinhos, do "Ndimba Ngola", o empresário Luís Montez, promotor dos “Kutonocas”, espectáculos itinerantes de rua, realizados nos bairros periféricos de Luanda.
Em 1973, grava o seu primeiro single, em que se destacam temas como “ O amor é como as rosas” e “ Utima ua teka”.
É assim que passa pelo Maxinde, Marítimo da ilha, Kudissanga kuá Makamba, salão do Braguês, Giro-giro, festas da Feira Popular, Chá das Seis, no Cinema Restauração e Mandarim, na ilha de Luanda, locais onde dividiu o palco com Milá Melo, José Cid, Lourdes Van-Dúnem, Belita Palma, Elias dia Kimuezo, António Paulino, David Zé, Urbano de Castro, Artur Nunes, Cirineu Bastos, Zé Viola e Sofia Rosa.
Como o encerramento das principais gravadoras em Angola, no período da independência, e com intenção de prosseguir a sua carreira musical, "Tchinina", que exercia o cargo de secretária de relações públicas do Governo de Transição, parte para Portugal, em Março de 1976, onde viveu 34 anos.
Ali, prosseguiu com a sua carreira, acompanhada pela banda "África Star", formação de músicos provenientes do Lubango, constituída por Victor (bateria), Octávio (saxofone), José Maria (viola ritmo) e João de Almeida (viola baixo).
"Tchinina" já foi homenageada, em Julho de 2013, pelo reconhecimento do conjunto da sua obra e pelos esforços de internacionalização da música angolana, em Portugal.
Durante o acto de homenagem, foi galardoada com um certificado de mérito, pelo Governo da província do Huambo, que prometeu patrocinar a gravação do futuro disco da cantora, tendo recebido ainda um fogão, 50 mil kwanzas, entre outros prémios.
As suas músicas estão incluídas no CD ”Vozes do Planalto, relíquias do passado”, a sair brevemente, com as canções “Quidale”, colectânea onde figuram os cantores Bessa Teixeira, Justino Handanga, Zé Catchingo e João Afonso.