Lubango - A Capela de Nossa Senhora do Monte, o principal símbolo do Lubango, província da Huíla, e que reverencia a padroeira da cidade, Nossa Senhora da Conceição, assinala neste domingo (15), cem anos desde a sua segunda inauguração em 1921.
A primeira capela data do início do século XX, mas teve que ser demolida porque localizava-se na parte baixa da Serra da Chela, pelo que foi então erguida a actual, no topo do monte que perdura até aos nossos dias.
A pequena igreja é o símbolo da instalação dos colonos portugueses no planalto da Huíla em 1885, que trouxeram celebrações religiosas da Madeira, Portugal, de onde eram originários, para o Lubango e que se transformaram nas tradicionais festas da Senhora do Monte, no mês de Agosto.
A Igreja Católica celebra o centenário com foco na mobilização de vontades e recursos para a concretização do projecto do santuário, que terá uma nova Basílica.
A história do santuário de Nossa Senhora do Monte está relacionada com a fundação da cidade do Lubango, que “nasceu” das mãos de madeirenses a 19 de Janeiro de 1885. Ao instalarem-se na região, não só fundaram a cidade, mas também replicaram a sua cultura e a religião.
Após 17 anos da fundação, isto em 1901, os madeirenses manifestavam saudades das rumarias que faziam na sua terra natal, no Funchal (Ilha da Madeira), como a peregrinação à Nossa Senhora do Monte e foi neste período que foram ter com o padre responsável pela capela de São José, actual Sé Catedral do Lubango, o padre Francisco Pessoa da Luz, a quem pediram uma capelinha dedicada à Santa.
Essa capelinha seria tal como a de sua terra, que a tem como padroeira da Madeira.
A partir daí, eles foram a povoação de cima e encontraram um terreno onde está hoje o Hotel Serra da Chela e compraram o espaço, dando início aos trabalhos de construção da primeira capelinha da Senhora do Monte em 1901.
No ano seguinte, a 15 de Agosto, foi inaugurada essa capela, com a celebração de uma missa, dando início à primeira edição das Festas de Nossa Senhora do Monte.
Dez anos depois, quando chegava o período das festas da cidade, os madeirenses acharam que a celebração religiosa sabia a pouco, para a dimensão da Padroeira, foi então que associaram às festas a componente social com outras actividades, até chegar ao modelo de feira que se tem hoje.
De acordo com relatos patentes numa revista sobre as festas datada de 1964, entre 1917 a 1918 os madeirenses julgaram ser necessário mudar a localização da Capela, pois tratava-se de “Nossa Senhora do Monte”, mas a sua situação geográfica estava na baixa, daí que a demoliram e a ergueram outra no topo da montanha.
Com isso, em 1919 foi demolida a antiga capelinha e começa a construção da nova, a actual que foi inaugurada a 15 de Agosto de 1921.
Significado dos cem anos para a Igreja
Em declarações à ANGOP, o assistente do Santuário de Nossa Senhora do Monte, padre Francisco Artur, afirmou que quem chegar ao Lubango e não visitar a capelinha, é como se não tivesses vindo.
Para ele, o lugar tem uma representação teológica da fé dos fundadores da cidade, dando uma lição, segundo a qual, quando se projecta grandes empreendimentos para séculos deve-se fazer com Deus.
Conforme o padre, o homem quando faz grandes projectos fora de Deus, esses não beneficiarão o próximo e nem durarão para a história, daí é que ao fundar a cidade, o acto primário de sua acção foi uma missa, nos barracões, a 19 de Janeiro de 1885.
Outro valor simbólico, conforme o religioso, é que Lubango tem a protecção primaria da “Mãe do Céu, Nossa Senhora do Monte” e que os munícipes crêem na sua protecção. Há também um significado social, já que a capelinha é tida como um património comum dos lubangueses e ícone de identidade da cidade.
“Anteriormente quando chegava o Agosto vinham pessoas de todas partes de mundo, alguns para celebrar a fé, sobretudo os descendentes de Madeira, outros para questões turísticas e ainda para participar em actividades lúdicas do período”, lembrou.
Turismo religioso é ainda incipiente na Senhora do Monte
Para o padre, para os que visitam a capela, o fazem por dois motivos, para reencontrar-se com a história e pela vertente turística, assim como por motivos religiosos, como peregrinos.
Avançou que o turismo ainda não é bem explorado por falta de um verdadeiro santuário na verdadeira ascensão da palavra, por ainda não estar construído, um projecto que já data desde a era colonial, um sonho dos fundadores da cidade.
O projecto do santuário
O santuário é o projecto geral, dentro do mesmo encontra-se a Basílica, capelas pequenas, cafés, lojas de conveniência, estacionamentos, entre outros serviços.
O padre Artur referiu que questões económicas impedem a concretização do sonho, uma vez que os recursos para a construção é dos cristãos locais, contribuição do governo, empresários locais e internacionais, uma situação que ainda vai ter de passar por uma mobilização grande.
Referiu que a mobilização já decorre há dois anos, uma sensibilização de vontades que implica primeiro reavivar o sonho dos cristãos fundadores da cidade, em construir a estrutura, uma basílica própria e digna de Nossa Senhora do Monte.
Para ele, uma basílica significaria “maturidade” cristã e seria a primeira da região sul, mas ainda deparam-se com pessoas que pensam que o projecto traria só benefícios para os católicos e religiosos.
Ressalta que durante as celebrações, há benefícios financeiros para o Estado, pois os peregrinos gastam dinheiro na compra de bilhetes para transporte, hospedagem, alimentação, diversão, entre outros custos.
A criação de oportunidades de negócio para os empresários, promoção da cidade além fronteiras, do emprego, com a matriz da Senhora do Monte, são entre outras vantagens, daí que contribuir para a construção da Basílica da Nossa senhora do Monte não é gastar mas um investimento.
Características do projecto do Santuário (Basílica)
A infra-estrutura comporta a igreja mãe (Basílica), cafés, estacionamentos, capelas pequenas, lojas de conveniências entre outros serviços terciários.
A estrutura foi apresentada em 2013, no Lubango, durante a defesa de tese de mestrado para a Senhora do Monte no Lubango, de José Frederico Ludovice, exposta pelo filho, Leopoldo Ludovice, ambos portugueses.
O projecto está localizado numa área de 229 mil metros quadrados (22.9 hectares), concedido pela Administração Municipal do Lubango, no bairro Comandante Cow Boy, em arredores da capelinha.
Em 2017 fez-se um orçamento de mais de 49 milhões de dólares, que actualmente por causa dos custos, já não cobririam a conclusão de toda infra-estrutura, mas pelo menos 70 a 80 por cento do projecto.