Huambo – A figura do Otchinganji, enquanto componente cultural da tradição dos ovimbundos, foi exaltada e eternizada, este domingo, no Huambo, no âmbito do Festival Nacional de Cultura (Fenacult), que decorre de 22 a 27 do corrente mês.
O evento, “abençoado” pela chuva, decorreu no campo pelado do Ferrovia, arredores da cidade do Huambo, num ambiente de nostalgia para a antiga geração que, há muito, não presenciavam uma exibição pública do género.
A aparição pública do Otchinganji, símbolo da cultura mítica ancestral, acompanhada de danças e canções do estilo olundongo, deve apenas acontecer, de acordo com a tradição local, a partir das 13 horas de domingo e, acima de tudo, em campos pelados ou em terrenos baldios.
Trata-se de uma cerimónia colossal e inesquecível, que se inicia com rituais tradicionais no recinto, com o objectivo de afugentar “os maus espíritos”.
Ao som do batuque, acompanhado de canções de apelo ao reforço da campanha de moralização da sociedade, fizeram-se ao palco vários tipos de Otchinganji, entre os quais bwangungu, sakalumbo, kavyula, Cavange, Elumba e Ngulo, que proporcionaram uma festa tipicamente tradicional.
Embora assustados, o desfile, presenciado pelo vice-governador da província do Huambo para os serviços Técnicos e Infra-estruturas, Elmano Francisco, contagiou, igualmente, a nova geração, principalmente, àqueles que assistiram, pela primeira vez, a um evento do género, marcado com ofertas monetárias aos palhaços.
Para os ovimbundos, no Planalto Central de Angola, a figura do Otchinganji representa uma das partes da iniciação tribal, com um papel sagrado, pois, para além de fazer parte do ritual folclórico, também, desempenha a função educativa, instrutiva e, ao mesmo tempo, mística.
O Otchingangi representa o acesso aos rituais sagrados da comunidade, por parte daqueles que passaram pela circuncisão, assim como a maturidade nos usos e costumes consagrados como mais importantes da comunidade.
Esta figura não só anima a comunidade concretamente no caso das danças, rituais e cerimonias mais importantes, como, também inspira ordem, disciplina e respeito.
Ao falar à ANGOP, o director do gabinete da Cultura, Turismo, Juventude e Desportos na província do Huambo, Jeremias Piedade Chissanga, disse que evento, inserido nas manifestações artísticas do Fenacult especial centenário Doutor António Agostinho Neto, visou divulgar a figura do Otchingangi, considerada como um traço cultural, aos mais novos e, ao mesmo tempo, proporcionar momentos de nostalgia para a geração mais antiga.
Na verdade, disse, a ideia é fazer com que os jovens consigam se inteirar mais sobre o que esta figura representa para a identidade cultural.
Outras manifestações do Fenacult
Desde terça-feira última, foram realizadas conferências e colóquios, exposição centenária do Doutor António Agostinho Neto, festivais de poesia e trova, teatro, de dança tradicional e uma feira sobre as potencialidades artísticas e culturais da província do Huambo.
O programa do Fenacult encerra este domingo à noite, com um espectáculo de variedades.
A primeira edição do Festival Nacional de Cultura (FENACULT) realizou-se em 1989, enquanto a segunda decorreu em 2014, um evento de afirmação cultural que promove a livre expressão da manifestação tradicional dos povos, o intercâmbio e o fortalecimento da unidade nacional e serve, ao mesmo tempo, para avaliar o estado de desenvolvimento e exaltação das artes e da cultura.
Recorde-se que o fundador da Nação angolana nasceu a 10 de Setembro de 1922, no Icolo e Bengo, tendo falecido a 10 de Setembro de 1979, em Moscovo na Rússia. Como primeiro Presidente de Angola, proclamou a independência nacional a 11 de Novembro de 1975.