Saurimo – Com a aposta no recrutamento local, o Pólo de Desenvolvimento Diamantífero de Saurimo, província da Lunda Sul, já formou, desde Agosto de 2021, 150 jovens na área de lapidação, com vista ao desenvolvimento sustentável e ao alavancar do mercado de trabalho.
Por Márcia Manaça e Óscar Silva
Após a formação, que durou nove meses, os jovens foram enquadrados, beneficiando, assim, do primeiro emprego, no âmbito do projecto de combate à fome e à pobreza.
Etelvino Januário, director do Centro de Lapidação, lembra que, após a formação, a maioriados jovens passou por uma experiência na Índia, para agregar mais valor ao aprendizado e apoiar no processo de desenvolvimento da província, em particular, e do país, em geral.
Acredita que a infra-estrutura possa reduzir o garimpo, já que é uma resposta ao desemprego.
“O aprendizado é feito em seis passos de lapidação, nomeadamente scanner (glass), laiser (corte), brutting (formato), polimento, controlo da qualidade e identificação de falhas, com turmas de 50 alunos cada, em dois turnos, e varia de quatro a seis meses, sendo exigido aos candidatos a 8.ª à 10.ª classe”, conta o director.
Centro de Formação da Endiama
Ainda no Pólo Diamantífero de Saurimo, encontra-se outro centro de formação, pertencente à Endiama, com 33 formadores disponíveis, todos nacionais, entre funcionários da Catoca e do Instituto Politécnico da Lunda Sul.
O primeiro ciclo de formação profissional do centro já foi oficialmente aberto, recorda o director Leão Chimy.
“Para a primeira fase, estão inscritos 80 jovens que participam de uma formação de nove meses, tendo sido projectados quatro cursos, designadamente de prospecção mineira, exploração mineira, tipografia e electromecânica”, revela.
A direcção do centro prevê realizar formações anuais, para atender à comunidade, devendo estender-se a outras áreas e cursos, como operação e manutenção, electricidade, mecânica, soldadura e mecânica auto.
Os estudantes, seleccionados pelo INEFOP, têm direito a um estágio profissional, mas o emprego só é garantido em função do desempenho de cada candidato e das vagas disponíveis nas respectivas áreas.
No âmbito da ajuda à comunidade, prevê-se a atribuição de bolsas de estudo a serem custeadas por empresas interessadas nos formandos.
O centro de formação integra um complexo que conta com o apoio de 53 trabalhadores e é constituído por cinco edifícios, 11 salas para aulas teóricas e oito para práticas, com 80 lugares cada, além do alojamento que compreende um auditório, um refeitório, duas quadras polidesportivas e um balneário de apoio.
Processo de lapidação
O Pólo Diamantífero, que congrega uma série de empresas relacionadas com a economia mineira, com foco na cadeia de valor dos diamantes, tem capacidade para 26 fábricas, mas conta, inicialmente, com três unidades, nomeadamente Capogem, KGK e Stardiam. Em contrapartida, apenas as duas primeiras estão em funcionamento.
Estas duas unidades fabris empregam 500 trabalhadores, entre os recém- formados e outros de recrutamento local. A tendência de empregabilidade é atingir seis mil empregos, constituindo-se numa almofada no combate ao desemprego.
A fábrica KGK, uma de entre as duas funcionais no complexo, emprega 194 trabalhadores, dos quais 45 expatriados, e possui uma capacidade de lapidação de 12 mil quilates de diamantes por mês, enquanto a “KapuGems”, cinco mil/mês.
Para o director financeiro do Pólo Diamantífero, Sunil Katariya, o trabalho na KGK decorre a bom ritmo, mas não revela qualquer dado referente ao processo de vendas ou de produção, e aponta, porém, como principal dificuldade a adaptação ao cumprimento obrigatório das tradições do povo lunda.
Questões relativas às autoridades locais e aos “trâmites legais da empresa são diferentes de outros países onde operamos”, refere.
Entretanto, Bruno Castro, um dos funcionários, aproveita a oportunidade para demonstrar o seu descontentamento em relação aos salários que auferem. Considera que não se coadunam com o trabalho que exercem, apelando a quem de direito para reforçar os mecanismos de fiscalização sobre as empresas estrangeiras que operam em Angola.
No mesmo diapasão, alinha Flora Marcos, que lamenta a falta de transporte, assim como de valorização dos funcionários nacionais.
A criação do Pólo Diamantífero de Saurimo vai permitir desenvolver a Bolsa de Diamantes em Angola, aumentar a produção, reduzir o garimpo e elevar a capacidade de lapidação.
O projecto, com um investimento de 77 milhões de dólares, vai contar, numa primeira fase, com quatro fábricas de lapidação (duas já funcionais), às quais se vão juntar as quatro já existentes no país.
Construído numa superfície de 305 185 74 metros quadrados, o Pólo de Desenvolvimento Diamantífero de Saurimo está dividido em três áreas principais, designadamente comercial, industrial e a reservada à central híbrida.
A área comercial é o núcleo de acesso público com lojas, restaurantes, praça da alimentação, bancos, repartições fiscais, escritórios, centro de convenções, escola técnico-profissional, posto médico e edifício para a acomodação.
A área industrial é composta por 26 lotes de diferentes dimensões, destinados à implementação de um centro de formação de lapidação de diamantes, fábricas de lapidação e indústrias do ramo diamantífero.
Localizado a quatro quilómetros da cidade de Saurimo, o pólo, na sua plenitude, vai garantir cinco mil postos de trabalho.