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Cuito Cuanavale: Do espectro da guerra para o desenvolvimento

Vista parcial da vila do Cuito Cuanavale
Vista parcial da vila do Cuito Cuanavale
Aramando Morais

Menongue - O município do Cuito Cuanavale, um dos nove da província do Cuando Cubango, tem vivido, nas últimas duas décadas, uma visível “metamorfose”, deixando, paulatinamente, o espectro de destruição e abraçando o desenvolvimento multifacetado.

Por Maurício Sequesseque / Diogo Fernandes / Adriano Chisselele, jornalistas da ANGOP    

Palco de uma das mais sangrentas e devastadoras batalhas registadas em Angola, durante o período de conflito armado (1975-2002), a localidade regista crescimento em diferentes sectores, particularmente no da reconstrução de infra-estruturas.  

Depois de terminada a Batalha do Cuito Cuanavale, ocorrida de 1987 a 23 de Março de 1988, o município ganhou, nos últimos anos, vários quilómetros de estradas, em particular no  troço Menongue (sede capital da província) / Cuito Cuanavale e vice-versa.  

Em concreto, foram recuperados 190 quilómetros de asfalto, e outros sete estão em obras.  

Trata-se de um dos maiores ganhos registados nessa localidade, o que tem facilitado, sobremaneira, a mobilidade dos cidadãos, também agraciados com um aeroporto renovado.   

O município, que ascendeu à categoria de cidade a 18 de Março de 1967, conta hoje com o Aeroporto 23 de Março, construído em homenagem aos heróis da Batalha do Cuito Cuanavale, que receberá aviões de grande porte oriundos de todo o país e do estrangeiro.  

Conforme o administrador local, Daniel Alfredo, a comunicação móvel é uma realidade na região, onde funcionam duas operadoras de telefonia, além de uma instituição bancária.     

Um dos sinais mais significativos da transformação do município é o memorial construído em homenagem aos combatentes angolanos, conhecidos e anónimos, que ajudaram a quebrar o mito da invencibilidade do exército sul-africano na histórica Batalha do Cuito Cuanavale.      

A infra-estrutura, construída numa área de 3,5 hectares, começou a edificada em 2008, sob responsabilidade de uma empresa chinesa, e, em 2012, passou para uma empresa sul-coreana até a data da sua inauguração, em 19 de Setembro de 2017.  

Entre as componentes do memorial, destaca-se a tocha acesa que simboliza a fogueira e bravura do combatente, ladeado de 28 campas simbólicas para homenagear as vítimas.     

A infra-estrutura dispõe, igualmente, de uma estátua de dois soldados, sendo um angolano e outro cubano, para simbolizar o apoio prestado a Angola, sobre uma torreta (parte superior de um blindado) e um monumento à bandeira, envolvido no formato de uma arma AKM, com uma altura de 25, 5 metros da base ao topo e  55 metros de comprimento.      

O memorial conta também com o monumento dos soldados, que é uma escultura em bronze, com 21,5 metros de altura e peso de 110 toneladas, feita a partir de um protótipo existente.       

Já o grupo escultórico, feito em bronze, com 55 metros de comprimento, representa três momentos sequenciais da Batalha do Cuito Cuanavale, como sejam a concentração das unidades, batalha defensiva e caminhada rumo à vitória.      

A parede dos heróis, com uma extensão de 75 metros, mostra a determinação dos combatentes em homenagem a sua dedicação, abnegação e sacrifício, bem como o trabalho exercido pela figura dos comissários políticos na elevação moral patriótica das forças.      

A guerra, a destruição e o sofrimento do povo angolano também estão retratados no local.       

Museu pirâmide realça exuberância   

A beleza, imponência e exuberância do memorial a Batalha do Cuito Cuanavale é ainda mais notória quando se observa o Museu Pirâmide e o Museu a Céu Aberto.       

Apesar de distintas, quer na concepção, quer no conjunto de peças que ostentam, ambas apresentam artefactos que atraem turistas de diferentes regiões e académicos, interessados na compreensão da história e da cultura da região.      

Segundo o guia turístico Guilherme Paulo, no Museu Pirâmide, por exemplo, encontram-se todos os documentos da batalha e alguns meios típicos da cultura ovanganguela.      

O museu está envolvido em três vigas de mármore gigantes, que representam os três ramos das Forças Armadas Angolanas: o Exército, a Marinha de Guerra e a Força Aérea.      

Logo à entrada, está patente o texto da proclamação da fundação das FAPLA, fundada a 1 de Agosto de 1974, chamando atenção de qualquer visitante que, de seguida, se depara com uma galeria contendo o retrato dos comandantes em chefes, os ministros da Defesa, os chefes do Estado-Maior General, bem como os comandantes das três áreas do Exército.     

Os distintivos usados pelas FAPLA e  FAA constam igualmente do museu.      

Fazem ainda parte da mostra a ideia operativa da Batalha do Cuito Cuanavale, assim como as operações tácticas realizadas para vergar o opositor.      

Já no Museu a Céu Aberto, encontra-se representado todo o material bélico usado pelos angolanos na defesa do solo pátrio.     No total, estão expostos 18 artefactos, entre tanques de diversas funcionalidades, lança granadas, camiões e aviões de diferentes tipos, com realce para o MIG 21, 22 e 23, BMP 1, BTM 3, PTS e RPG7.  

O material dos invasores capturado pelas FAPLA, no Triângulo do Tumpo, epicentro do conflito, nomeadamente o tanque “Olifant” e o varre-minas, além de outros dois tanques no mesmo perímetro, representam a prova de que o mito da invencibilidade do exército racista sul-africano foi quebrado na Batalha do Cuito Cuanavale.  

Hotelaria, turismo, comércio e indústria      

O município do Cuito Cuanavale é rico em recursos naturais e paisagísticos, com uma fauna e flora exuberantes, para além de ter em abundância recursos hídricos.       

Os rios Cuito e Cuanavale, que dão nome ao município, são perfeitamente navegáveis, o que pode facilitar as mais variadas formas de turismo e lazer.      

Segundo o administrador municipal, Daniel Alfredo, a circunscrição é visitada por vários turistas, delegações do Governo e outros interessados na história da Batalha do Cuito Cuanavale, que procuram conhecer os hábitos e costumes da região.      

Semanalmente, precisou, recebem entre três e quatro visitas de estrangeiros no âmbito turístico diplomático, idos das repúblicas de Cuba, Botswana, África do Sul e Namíbia.      

Quanto ao parque hoteleiro, diz que o município não tem ainda uma unidade hoteleira, mas já está em curso a construção de um Lodge, apesar de algumas dificuldades financeiras.  

Noutro sentido, explica que a energia eléctrica, que cobre o município 24 horas ao dia, está a facilitar os comerciantes no congelamento dos bens, para além de facilitar o trabalho desenvolvido pela indústria madeireira, assim como as moageiras (máquinas de transformação do milho em farinha) que são as mais beneficiadas.      

Faz saber que, para além dos vendedores de origem local, os malianos, congoleses e chineses também operam na área de comércio a grosso e a retalho.     

Educação com bons indicadores   

Quanto à Educação, a fonte disse que se regista um crescimento exponencial, quer na vertente de infra-estruturas, quer na área de recursos humanos.      

Dados da Direcção Municipal da Educação apontam para a existência de 16 escolas de construção definitiva, do ensino pré-escolar ao segundo ciclo do ensino secundário.      

Neste ano lectivo, foram matriculados 18 mil alunos, acompanhados por 345 professores.      

Não obstante o esforço do Governo na garantia do ensino, ainda regista-se um número de 303 crianças em idade escolar fora do sistema normal de ensino.      

O programa de alfabetização denominado “Sim, eu posso” tem matriculados 304 alunos.     

No primeiro trimestre deste ano, poderá ser inaugurada uma nova escola do segundo ciclo, para a formação de professores, com 12 salas de aula,  e construída outra de seis salas do ensino primário, no bairro Dumba, além de reabilitada e ampliada a escola de formação de Artes e Ofícios, todas no âmbito do Plano Integrado de Intervenção nos Municípios.  

Conforme o administrador municipal, Daniel Alfredo, no quadro do Programa Integrado de Desenvolvimento Rural e Combate à Pobreza, está salvaguardada a questão da merenda escolar, que tem servido para cativar os alunos e melhorar o seu desempenho.      

“Não temos problemas de merenda escolar. Mensalmente, no quadro do Programa de Combate à Pobreza, temos a merenda. Recentemente, fizemos a requisição do material escolar e entregamos também mochilas, batas e sapatos, que têm ajudado as crianças vulneráveis”, afirma, apesar de não precisar dados estatísticos.      

Em relação à Saúde, as autoridades locais dizem que a humanização desses serviços é uma realidade no município do Cuito Cuanavale.       

A prestação do atendimento médico e medicamentoso é assegurada por mais de 60 profissionais em todo município, com destaque para seis médicos, 50 enfermeiros, oito técnicos de diagnóstico e terapêutica, bem como o pessoal de apoio hospitalar.    Para o entendimento ideal, seriam necessários mais cinco médicos e 25 enfermeiros.      

Outra solução poderá ser a construção (em curso) de um hospital maior, com a capacidade prevista de 200 camas, erguida no âmbito do PIIM, pelo Ministério da Saúde.    Uma vez concluída, a obra irá beneficiar os pacientes de municípios circunvizinhos, como o de Mavinga e do Rivungo, e permitirá reforçar os quadros do sector com mais de 300 profissionais.  

Está em curso, pela primeira vez na história do município, a construção de uma morgue com capacidade de 10 gavetas. Quando concluída, a mesma vai evitar que os habitantes tenham pressa de enterrar os seus parentes, com o receio da deterioração dos restos mortais.      

O Cuito Cuanavale é um dos municípios mais electrificados do país, contando com uma central térmica com cinco geradores de 7.5 megawatts.  A distribuição de energia eléctrica é feita por sistema pré-pago, beneficiando mais de 20 mil habitantes.      

Um centro médico, postos de saúde, seis pontes sobre o rio Cuito e duas sobre Luassingua e Sovi, uma sobre o Kuhilili, 65 residências sociais do tipo T3, 30 casas para os idosos, bem como 25 casas protocolares destinadas a acomodar altas entidades dos países da África Austral, totalmente mobiladas, fazem parte do manancial da vila do Cuito Cuanavale.      

Desafios e perspectivas  

Quem visita o Cuito Cuanavale, pode dispor também da agência do Banco de Poupança e Crédito (BPC), Balcão Único de Empreendedor (BUE) e da Unitel, loja de registo civil, pavilhão de artes e ofícios,  hospedaria, restaurante, estabelecimentos comerciais e a Fazenda Agro-Industrial do Longa, destinada à produção de arroz, em grande escala.      

Apesar dos avanços registados, o administrador local aponta a construção de casas sociais e a necessidade da contínua valorização dos antigos combatentes como grandes desafios.      

A recuperação das vias secundárias (estão já previstos 30 quilómetros), a construção de 30 casas sociais e a reabilitação das casas construídas no tempo colonial, como o antigo palácio, bem como a construção de sítios de lazer para a ocupação dos tempos livres da juventude e o aumento do efectivo policial constam igualmente do pacote de desafios.  

De igual modo, preocupam as quatro ravinas de grande dimensão, que ameaçam cortar a sede municipal, apesar de haver já algum trabalho em curso para o estancamento das mesmas.      

O administrador recorda que, nos anos 2005, 2006 e 2012, as ravinas “engoliram” uma igreja e a Direcção Municipal da Educação, além da residência do soba, que estava quase a ruir.      

A administração já fez o levantamento das ravinas, pelo que a população está a ser sensibilizada para não construir em zonas críticas.       

Ouvido pela ANGOP, o cidadão António Tchinga, de 61 anos de idade, enaltece o esforço do Governo na implementação de projectos voltados para a melhoria da imagem da vila.  

Relata que o município estava em mau estado, exemplificando que não havia energia, água e boas casas, mas, actualmente, está a desenvolver-se.     

Ainda assim, solicita mais apoio do Governo para intervenção nas vias secundárias e terciárias, disponibilização de mais tractores e fertilizantes para a melhoria da produção agrícola e consequente exportação dos produtos do campo para a cidade.      

Por seu turno, Kito Chinoia, 22 anos de idade, reconhece que o município tem uma nova imagem, com energia e água ao serviço de todos.     Porém, solicita mais programas para a empregabilidade da juventude e mais escolas, principalmente do ensino superior.      

Para Isaías Armando, moto-taxista, o município apresenta níveis de desenvolvimento que orgulham, destacando a iluminação, a água, a via principal asfaltada e as casas sociais.      

O administrador Daniel Alfredo reitera que o município tem as “portas abertas” ao investimento e assegura todas as facilidades possíveis na indicação e identificação de espaços para os investidores aplicarem os seus negócios.  

     





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