Cazenga – Cerca de 80% do sistema de esgotos do município do Cazenga encontra-se inoperante por assoreamento com valas, sarjetas, microdrenagens e colectores que nunca sofreram intervenções de manutenção.
Por Ana Monteiro, Jornalista da ANGOP
Segundo a administração municipal, a maior dificuldade está no facto de o Cazenga ter um lençol freático elevado, num terreno plano, o que leva a que todas as águas pluviais fiquem estagnadas.
Sempre que o município recebe descargas pluviométricas, não há filtração ou infiltração, nem condições de escoar, explica o administrador municipal adjunto para a Área Técnica e Infra-estrutura, Wilson Neto.
Em entrevista à ANGOP, que serviu para abordar o plano de contingência para a época chuvosa, Wilson Neto indicou, a título de exemplo, que a rua dos Comandos está assoreada a 60% e a Comissão do Cazenga a 80%, fazendo com que a rua do Patrício não consiga receber as águas e residuos provenientes dos bairros Matapá e Antenov e outras ruas adjacentes.
Tambėm a quinta avenida encontra-se quase completamente assoreada, principalmente na zona do Mercado do Asa Branca e do Centro Profissional, afirmou.
Mesmo a nova urbanização Kalawenda, prosseguiu, tem a sua drenagem assoreada da bacia do Tio Kimbundu até à vala do Leito Corte, que recebe 20% das contribuições provenientes do Grafanil.
“Nós temos duas valas, a do Leite Corte, que está na comuna do Kima Kieza, e a do Cazenga Cariango, que corta metade do Cazenga, e que não é suficiente. Nós temos uma macrodrenagem que está na rua do Patrício que vai até ao São Pedro, município do Hoji Ya Henda, mas que não consegue receber as contribuições por não termos, de momento, como encaminhar as águas para essas zonas”, disse.
Fez saber que já existe um programa que vai dar resposta a essas questões, tendo já iniciado o trabalho de limpeza das microdrenagens do bairro Cazenga Popular.
Durante o trabalho de limpeza, disse, foram descobertos dois colectores de grande capacidade e que está a ser feito o desvio das águas das bacias para esses colectores que estão mais próximos.
“O principal problema em algumas zonas são os colectores que estão assoreados com bastante terra e resíduos sólidos depositados pelos munícipes, dificultando, assim, o escoamento das águas até aos colectores principais”, insistiu.
Pontos críticos
Segundo o responsável, foram registados, na comuna do Kima Kieza, 24 locais críticos de inundação, entre os quais as ruas da Olímpia (junto à Igreja Metodista), da Incubação, do Poupa Lá, da Manauto, do Gesso, entre outras.
No Kalawenda, referiu, foram registados sete locais, mais concretamente a bacia de retenção dos Picos, Campo Militar, ruas do Parlamento, do Combal, da Bacia do Tio Jingongo, da Gamek e do rei Pelé.
Já no Tala Hady, acrescentou, foram registados 10 pontos como a Bacia da BCA, o Largo dos Porcos, a sexta Avenida e as ruas do Inocêncio, da Vala do Cazenga Cariango, da Filda, do Largo do Capussoca, da 5ª Avenida, do bairro do Cariango e da Avenida Hoji Ya Henda.
No bairro do 11 de Novembro, foram registados 19 pontos críticos, com destaque para os Sectores da Colômbia por trás da ex-Fábrica Mabor General e do Porto Seco Santibraga, Bacia da Catumbela e a Bacia da Vininorte por trás do Kikolo Shoping, no Sector 6 do Bairro Compão.
O sector do Camacongo, as ruas da Kianda, da EPAL, do Bom Pastor, do Buraco do 14, entre outros, estão entre os principais pontos críticos.
Na comuna do Cazenga, foram identificados 12 pontos, destacando-se as ruas da Kizanga, do sete e meio, da Fortuna, dos Românticos, da Comissão do Cazenga, da sexta Avenida (ponto do Mercado do Asa Branca), o Centro Veterinário (6ª Avenida), a rua do Mercado da Deolinda, entre outras.
Wilson Netol explicou está em curso uma operação de sucção das águas, desassoreamento das valas e dos colectores principais, construção de canais de drenagem pluvial gravítica para descarga dos largos até aos colectores mais próximos, para dar resposta aos efeitos do transbordo e podas de árvores.
“Ainda temos a necessidade de alguns meios técnicos específicos para a execução de determinados serviços, atendendo a algumas zonas críticas, bem como a reabilitação de algumas bacias de retenção, como é o caso da BCA”, disse.
Sobre a BCA, disse que, durante a época chuvosa, a área tem excedido com facilidade o nível da sua capacidade de retenção, provocando grandes volumes de águas nas residências dos munícipes.
Bacias de retenção
As bacias de retenção de águas pluviais são reservatórios que recebem a água da chuva e a direccionam para a rede de esgoto, por formas a evitar que a rede fique sobrecarregada e cause inundações.
A nível do município do Cazenga foi feito um trabalho para se identificar os pontos mais críticos, onde foi possível registar, em 2024, que três das nove bacias de retenção existentes estão em situação crítica.
O administrador adjunto para Área Técnica e Infra-estrutura do Cazenga salientou que as bacias mais críticas são as da BCA, da Catumbela e da Colômbia que nunca receberam nenhuma intervenção, situação diferente das bacias do Tio Jingongo, Mabululu, Tio Kimbundo, Tunga Ngol e a dos Picos.
Sublinhou que, a nível da comuna do Kima Kieza, as bacias da Catumbela e da Colômbia afectam mais de mil famílias, quando há enchentes ou quando transbordam, sendo que a da BCA atinge mais de 300 famílias, constituindo assim mais preocupação a nível do município
“Reconhecemos que ainda temos zonas muito críticas, mas a administração municipal do Cazenga tem levado a cabo um trabalho de identificar os pontos mais críticos. Alguns desses já estão inscritos no orçamento de 2025”, realçou.
Sétima Avenida vislumbra tempos melhores
As obras de reabilitação da Sétima Avenida do município do Cazenga, que fazem parte do Plano Integrado de Intervenção nos Municípios (PIIM), vão ser retomadas proximamente, numa empreitada avaliada em mais de sete mil milhões de kwanzas.
A este propósito, Wilson Neto precisa que o Presidente da República, João Lourenço, através do Despacho Presidencial n.° 222/23, de 14 de Setembro, autorizou a despesa e a abertura do Procedimento de Contratação Simplificada, pelo critério material, para a execução da empreitada de reabilitação, no valor de global de 7. 6 mil milhões de kwanzas.
O despacho presidencial surge da necessidade de conclusão deste projecto, com impacto significativo na vida social dos munícipes, na sequência da rescisão do contrato com o empreiteiro Engeniun, por incapacidade técnica para levar a cabo a execução das obras.
Segundo Wilson Neto, a empreitada está com 24% de execução financeira e física, incluindo 10% de terraplanagem, encontrando-se a obra na fase de compactação, depois de feita a base e a sub-base do leito para receber o material para começar-se a asfaltar.
“A Sétima avenida já é uma realidade, porque a zona crítica já foi intervencionada e esperamos uma maior evolução”, exaltou.
Por outro lado, disse que, no quadro dos trabalhos para a identificação dos problemas de infra-estrutura do município, contando com os principais arruamentos, transversais e rodovias pavimentadas, foram localizadas 142 quilómetros de vias que precisam de intervenção.
Wilson Neto fez saber que do total identificado já foram intervencionadas 48 quilómetros desde terraplanagem, asfalto, reperfilamento das valas de drenagem e esgotos.
Cazenga
Com a entrada em vigor da nova Lei da Divisão Político-Administrativa (Lei n.° 14/24 de 5 de Setembro), o município do Cazenga passa a ter 33,25 Km² de superfície territorial de e cerca de 785 mil habitantes.
Cazenga situa-se a cerca de seis qulómetros da sede capital da província de Luanda e está limitado a Norte pelo município do Hoji Ya Henda, a Sul pelos municípios do Kilamba Kiaxi e Viana, a Este pelos de Cacuaco e Mulenvos e a Oeste pelo do Rangel.
Actualmente, o município do Cazenga está constituído por duas comunas (Cazenga e Kima Kieza) e 28 bairros, estando o centro-político administrativo ou sede municipal situado na comuna do Cazenga, bairro Tala Hady. ACS/OHA/IZ