Luanda - O sector da energia em Angola manteve, em 2024, o foco na operacionalização de projectos estruturantes para aumentar a capacidade de produção de electricidade, com a inauguração do Aproveitamento Hidroeléctrico da Matala, na província da Huíla, e das centrais fotovoltaicas de Saurimo (Lunda-Sul) e Luena (Moxico).
Por Aurélio Cua, jornalista da ANGOP
Os investimentos no sector, incluindo as centrais do Luachimo, na província da Lunda-Norte, e do Cunje, no Bié, não só aumentam a capacidade de produção de energia eléctrica, como também reduzem os custos e as emissões de gases de efeito estufa.
Além dos benefícios em termos de capacidade energética, a reabilitação, modernização ou construção de tais projectos trouxe melhorias significativas para as comunidades. Vilas e localidades circunvizinhas foram electrificadas, impulsionando o desenvolvimento económico dessas regiões.
O Executivo angolano investiu 106 milhões, 940 mil, 676 euros na reabilitação da barragem da Matala, desde 2019, permitindo aumentar a sua capacidade de produção de 27.7 para 40.8 megawatts.
O parque fotovoltaico de Saurimo, orçado em 38,8 milhões de euros e com capacidade para gerar 26.14 MW, comporta 44.850 painéis solares e irá produzir electricidade limpa para abastecer mais de 170 mil famílias, uma solução que vai ajudar a poupar mais de 19 milhões de litros de combustível por ano.
O aproveitamento hidroeléctrico do Luachimo ganhou novo circuito hidráulico e uma central com 34 MW de potência instalada, equipada com 4 grupos geradores de 8,5 MW cada, o que tem contribuído para atender às necessidades de indústrias, sobretudo do sector mineiro, que dependiam de grupos geradores.
O ano de 2024 registou avanços significativos a nível das obras do aproveitamento hidroeléctrico de Caculo Cabaça, no Cuanza-Norte, cuja central principal está a um nível de execução física de 34%, e das barragens do Nduê e Calucuve, ambas em curso na província do Cunene.
A construção da barragem do Nduê apresenta um grau de execução física e financeira de 83% e a do Calucuve de 63,12%.
Uma fez em funcionamento, as duas infra-estruturas vão impulsionar a produção agrícola e a criação de gado, assim como minimizar o problema da seca na região.
Tendo em conta o desenvolvimento sustentável do país e o bem-estar dos cidadãos, a transportação e a distribuição de energia eléctrica constituem prioridades cujos esforços para implementação dos projectos continuarão em 2025.
Dados indicam a produção de mais de 12 mil e 500 gigawatts de energia eléctrica, de Janeiro a Novembro de 2024, pela Empresa Pública de Produção de Electricidade (PRODEL-EP), representando um aumento de oito por cento em relação ao ano transacto.
Esses números resultam do investimento de mais de dois mil milhões de kwanzas na modernização e manutenção de infra-estruturas dos centros de produção, com destaque para as barragens de Laúca, Cambambe e Kapanda.
Energias renováveis
Ao longo dos últimos 12 meses, foram também aplicados 500 milhões de kwanzas em projectos de energias renováveis, com incidência para a integração de sistemas solares em comunidades rurais, que beneficiaram mais de 50 mil famílias.
Os indicadores reflectem a solidez da estratégia de crescimento e gestão da empresa, a qual mantém o compromisso com a melhoria contínua do fornecimento de energia eléctrica, com vista à promoção do desenvolvimento do país.
O ministro do sector reiterou a intenção do Executivo de atingir 73% de energias renovais no país, até 2027, salientando estar em curso vários projectos que vão acrescentar 500 megawats de energia solar na “matriz energética nacional”.
Adicionalmente, outros serão instalados em províncias da região sul para melhorar o acesso aos serviços nas zonas rurais.
Nesta vertente, o Ministério de tutela e a Câmara de Comércio Americana em Angola (AmCham-Angola) assinaram um protocolo de cooperação, para promover políticas de transição energética e o desenvolvimento de um pólo energético.
Neste esforço, os Estados Unidos continuam a ser um dos parceiros que mais tem apoiado Angola, com investimentos cifrados em 2,4 mil milhões de dólares.
Barragem de Baynes para Angola e Namíbia
Angola e a Namíbia rubricaram, no decurso do ano, um acordo para a construção e exploração do Aproveitamento Hidroeléctrico Binacional de Baynes.
O aproveitamento hidroeléctrico vai situar-se no rio Cunene, no trecho internacional fronteiriço entre os dois Estados, a cerca de 48 quilómetros a jusante das quedas de Epupa e 200 km a jusante de Ruacaná, no local onde o rio atravessa o desfiladeiro de Baynes.
A infra-estrutura terá uma potência instalada de 860 MW, com quatro unidades de 215 MW, sendo 430 MW para cada um dos países, estando garantido o reforço da integração da rede eléctrica de Angola na da região austral de África.
O projecto reveste-se de enorme importância para o progresso das regiões Sul de Angola e Norte da Namíbia, bem como para o fortalecimento das relações bilaterais. Para além da produção de electricidade, vai propiciar o desenvolvimento destas regiões nos sectores da agricultura, da pecuária, do turismo e da criação de emprego.
Permitirá, igualmente, em ambos os Estados, a criação de novas oportunidades de negócios no sector industrial e dos transportes, durante a fase de construção, com destaque para o Porto do Namibe, para a indústria nacional de produção de cimento e materiais de construção, bem como para os transportes ferroviário e rodoviário nacionais.
O acordo contempla, entre outros, a formalização da decisão e o compromisso de os dois Governos construírem conjuntamente o aproveitamento hidroeléctrico e o estabelecimento de condições para a implementação do projecto, conforme os seus princípios e disposições e protocolos complementares. ACC/VC/IZ