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A dura rotina dos pacientes de lepra

Casos de lepra (Ilustração)
Casos de lepra (Ilustração)
José Cachiva

Luanda – Em 1976, Lucas Keta nasceu na cidade de Luanda, saudável e sem sinais aparentes de lesões corporais. Durante vários anos, levou a vida focado nos estudos e no trabalho, até que uma doença milenar, a lepra, lhe mudou o destino.

Por Simão José

O funcionário de uma unidade hoteleira não tem histórico de casos da doença na família, mas há três meses entrou para a lista dos milhares de pacientes que enfrentam, no seu dia-a-dia, o estigma da sociedade, por serem portadores desta enfermidade.

Lucas Keta descobriu a doença na fase inicial, depois de ver estranhas inflamações nos pés e de submeter-se a diagnóstico hospitalar. Era o começo de uma dura jornada.

Desde então, o paciente mudou completamente a rotina, devido aos sintomas indesejados que o impediam de permanecer em pé por mais de cinco minutos ou até mesmo de caminhar, ficando a depender de fármacos e tratamento constante.  

Depois das primeiras consultas, no Dispensário de Luanda, teve de cortar quase tudo, principalmente o lazer, tomando cuidados redobrados para esconder a sua condição diante dos colegas de trabalho. Lucas temia perder o emprego.

Hoje, diante da nova realidade, vai às consultas regulares e sente melhorias na saúde, embora mantenha "segredo" no local de trabalho, para preservar "o pão".  

O mesmo conta que não ficou surpreso nem entrou em pânico após ser diagnosticado com a doença, graças ao conhecimento prévio das manifestações clínicas da lepra.

"Os resultados começaram a surgir logo no primeiro mês do tratamento, contribuindo para o meu retorno às suas actividades normais", testemunha Lucas Keta, que destaca a ajuda prestada pela família e por amigos para vencer as vicissitudes da doença.

O funcionário ainda não venceu, por completo, a luta contra a lepra. A sua recuperação é satisfatória, pelo que se mostra confiante na cura total, a médio prazo, a fim de voltar a ter a mesma vida normal que lhe "fugiu" há três meses.

Entretanto, apesar da história de sucesso de Lucas Keta, há pelo país milhares de angolanos que ainda sofrem as amarguras provocadas pela doença, lutando contra a discriminação, fundamentalmente por causa das deformidades provocadas pela lepra.

Por causa da rejeição nas comunidades, muitos preferem, depois de curados, retornar para a área adjacente à Leprosaria da Funda (Luanda), unidade de referência, que tem, actualmente, nove pacientes internados e 28 em atendimento ambulatório.

Dados recentes a que a ANGOP teve acesso, apontam que o país tem dois mil e 896 portadores de lepra, contra os mil e 370 registados até 2020.

A maior incidência de casos novos regista-se nas províncias de Benguela, Bié, Cuanza Sul, Huambo, Huíla, Luanda e Malanje, envolvendo, na maioria adultos. 

O índice de prevalência está fixado em 0,78 por cento e o de detecção em 0,93, números que fazem da lepra um factor de preocupação para o Ministério da Saúde.

Angola dispõe de 96 unidades sanitárias que tratam e acompanham doentes com lepra, além de medicamentos suficientes para o tratamento da doença. Hoje por hoje, o doente pode ser assistido em qualquer unidade sanitária primária.

Actualmente, conforme os dados oficiais, a taxa de abandono do tratamento equivale a 8 por cento, sendo esta outra grande preocupação das autoridades do Governo.

Entre as principais causas do abandono, segundo estudos, aponta-se a distância dos locais de assistência sanitária, falta de alimentação adequada para suportar a carga dos medicamentos e o difícil acesso aos centros de tratamento.

Para contrapor a actual situação, o Instituto Nacional de Controlo à Lepra aposta no reforço das acções de capacitação de técnicos, na distribuição de medicamentos, bem como na gestão integrada de todas as doenças tropicais negligenciadas.

A instituição aponta como causas do aumento de casos o relaxamento nas medidas de controlo, nos últimos anos, face à baixa taxa de prevalência que se registava desde 2005, a negligência dos infectados que acorrem às unidades sanitárias em estado avançado, assim como o prolongado período de incubação da doença (quatro anos).

Isto, dizem os especialistas, dificulta o despiste precoce da enfermidade.

As autoridades sanitárias angolanas estão confiantes no alcance e no sucesso do combate ou eliminação da doença, para corresponderem às expectativas mundiais.

As metas da OMS estão direccionadas para as acções que levam os países a atingirem o nível zero no caso da lepra, pela via da massificação do conhecimento a nível da transmissão da doença, incapacidade, do estigma e discriminação de crianças.

Diagnóstico precoce é fundamental

O diagnóstico tardio, por negligência, desconhecimento ou medo de estigma, tem feito que o tratamento nem sempre surta o efeito desejado, por já estarem numa fase de deformidade chamada de lepra multibacilar, ou seja, a contagiosa.

Segundo a directora do Dispensário de Anti-tuberculose e Lepra de Luanda, Janeth Adão, a lepra faz parte das doenças tropicais negligenciadas, pelo que o diagnóstico precoce facilita o tratamento, prevenção e evita danos maiores.

A especialista explica que o seu tratamento é medicamentoso e envolve a associação de três antimicrobianos: rifampicina, dapsona e clofazimina, cuja composição é denominada "Poliquimioterapia Única".

Sendo a lepra uma doença crónica, transmissível e de notificação compulsória, é de investigação obrigatória em todo o território nacional. A mesma tem como agente etiológico o Micobacterium leprae, bacilo que tem capacidade de infectar grande número de indivíduos e que atinge, principalmente, a pele e os nervos periféricos. 

A infecção por hanseníase pode ocorrer em pessoas de ambos os sexos e de qualquer idade. Entretanto, é necessário um longo período de exposição à bactéria, sendo que apenas uma pequena parcela da população infectada realmente adoece. 

A transmissão ocorre quando uma pessoa com hanseníase, na forma infectante da doença, sem tratamento, elimina o bacilo no meio exterior, infectando outras pessoas.

A via de eliminação do bacilo pelo doente são as vias aéreas superiores (mucosa nasal e orofaringe), por meio de contacto próximo e prolongado.

Os doentes com poucos bacilos – paucibacilares (PB) – não são considerados importantes como fonte de transmissão da doença devido à baixa carga bacilar.

As pessoas com a forma multibacilar (MB) – muitos bacilos, no entanto, constituem o grupo contagiante, mantendo-se como fonte de infecção enquanto o tratamento específico não for iniciado.

A hanseníase, vulgarmente conhecida por lepra, apresenta longo período de incubação (tempo em que os sinais e sintomas se manifestam desde a infecção). 

Geralmente, dura, em média, de 2 a 7 anos, embora alguns estudos científicos mais recentes apontem para períodos inferiores a 2 e superiores a 10 anos de incubação.

A lepra causa, entre outras consequências, a diminuição da sensibilidade e/ou da força muscular da face, mãos e pés, devido, essencialmente, à inflamação de nervos.

A doença causa manchas esbranquiçadas, avermelhadas ou amarronzadas, em qualquer parte do corpo humano, com perda ou alteração de sensibilidade térmica (ao calor e frio), tátil (ao tato) e à dor.

Os efeitos podem estar, principalmente, nas extremidades das mãos e dos pés, na face, orelhas, no tronco, nas nádegas e pernas. 





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