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Sentimos falta de matéria-prima de qualidade – Soraya da Piedade

     Entrevistas              
  • Luanda • Domingo, 27 Junho de 2021 | 09h31
Estilista angolana Soraya da Piedade
Estilista angolana Soraya da Piedade
Cedida

Luanda – Nascida em Angola e formada no Brasil, Soraya da Piedade dá cartas no mundo da moda, com tendências inovadoras que lhe colocam, nos últimos anos, entre  as principais referências da nova geração em termos de arte e cultura no país.

Por:Venceslau Mateus

A artista, que se diz habituada a grandes desafios, concedeu uma entrevista à ANGOP para falar das suas conquistas e dos desafios dos artistas nacionais, sobretudo diante do cenário de incertezas imposto pela pandemia da Covid-19.

Sorridente e bem-humorada, Soraya Piedade revela nesta conversa, conduzida pelo jornalista Venceslau Mateus, como começou a chegar às paradas de sucesso, da sua  marca e da rede de clientes exclusivos, bem como do futuro da moda em Angola.

Segundo a artista, os especialistas da moda em Angola já apresentam produtos aceitáveis, apesar de haver, na sua óptica, grande falta de matéria-prima de qualidade.  

A criadora angolana diz que no actual contexto a estratégia é apostar na criatividade para não se ir abaixo e aproximar ainda mais o público das marcas.

Eis a íntegra da entrevista:

ANGOP: É detentora de uma marca que se tem afirmado nos últimos tempos em Angola. Como tem conseguido manter o projecto diante desta crise económica, social e sanitária mundial, imposta pela pandemia da Covid-19?

Soraya da Piedade (SP) - Criando estratégias que aproximem ainda mais o público da marca, como o conceito “loja na Mala”, em que a cliente recebe, no conforto de casa, todas as peças da loja, no seu respectivo tamanho e com o calçado também da nossa linha, para que possam combinar com os looks, tudo isso sem qualquer custo adicional. A cliente tem liberdade de experimentar, escolher o que quer e pagar na hora.

ANGOP: Em concreto, como olha para todo este momento de incertezas, com milhares de fazedores de arte praticamente no desemprego e sem actividades?

SP - Já diziam que a crise depende de quem olha e também pode ser uma oportunidade.  Sempre a olhei desta forma. Precisamos de ser proactivos, pesquisar, criar e investir noutras formas de subsistência, que tenham a ver com a nossa actividade profissional, principal ou não. Quem sabe se, ao tirarmos do papel um velho sonho, uma velha aptidão (…), podemos sempre surpreender pela positiva.

ANGOP: Que mensagem deixa àqueles artistas que sentem mais na pele o impacto da Covid-19, por não terem qualquer oportunidade de mostrar a sua arte?

SP - Não acredito no impossível. Bem pensado, deve haver alguma forma, ainda que dentro das restrições impostas pelo Governo, de promoverem os seus produtos e os seus trabalhos. A internet é uma grande aliada neste sentido.

ANGOP: Mas é certo que nem todos os criadores terão capacidade de resistir à crise. Que lições devem tirar deste momento, para relançarem os seus projectos?

SP - Penso que a crise, neste sentido, foi boa, porque vemos muitos novos e bons estilistas em Angola e outras partes do Mundo também a darem cartadas na moda. Sentimos falta de matéria-prima de qualidade e diversidade, a todos os níveis, que de certo garantiriam melhores resultados aos produtos oferecidos ao público. Na minha opinião, esta é a maior dificuldade do criador em Angola. De resto, estamos a crescer.

ANGOP:  Que futuro antevê para Angola neste domínio das artes?

SP - Não consigo prever, mas na certa vivemos e viveremos ainda tempos de dificuldades a todos os níveis. Mas temos que continuar a lutar.

ANGOP: Mudando de ângulo, quando é que nasce o gosto pela moda?

SP – Pelo que me lembro, criar sempre foi a minha grande paixão.

ANGOP: Em que se inspira para fazer as suas colecções, que vão ganhando o Mundo, em particular a América do Sul?

SP- Em tudo e em qualquer coisa (risos). Depende muito da estação, do momento de vida e até das tendências.

ANGOP: Quanto tempo leva a fazer uma colecção?

SP - Para criar, em média 24 horas (risos), mas entre adquirir a matéria-prima, organizar a produção e executá-la, levo em média 30 dias.

ANGOP: Hoje, estabelece a ponte entre o Brasil, onde se formou, e Angola. As marcas da cultura desses dois países são representadas nas suas colecções?

SP - Sim e não...

ANGOP – Explique-se melhor…

SP - Quando fui para a formação no Brasil tinha 25 anos e toda a estética pessoal e artística já estava formada, não há muito que tenha mudado desde então. Porém, a técnica, deontologia de trabalho e tudo o resto inerente à criação, gestão e desenvolvimento de marca trago de lá. Primeiro porque são mais desenvolvidos em relação a nós nestes aspectos, segundo porque tive lá, em primeira instância, as experiências na prática de gestão de Showroom e loja física. De resto, bebo um pouco de todos os lugares por onde já tive a oportunidade de passar pelo mundo.

ANGOP: A Soraya tem alguma razão especial para se concentrar no mercado brasileiro, principalmente em Curitiba, onde tem, inclusive uma loja?

SP - Eu queria muito essa experiência, primeiro porque vivia lá, depois porque tinha de facto uma procura grande dos meus produtos. Pretendia voltar para Angola o mais preparada, para oferecer ao meu público o melhor de uma marca madura e consistente. Entretanto, após essa primeira experiência, troquei a loja de pronto a vestir no Brasil pela loja de pronto a vestir em Luanda. Penso que tudo tem um momento ideal para acontecer e a Fast Fashion não podia ter surgido em melhor altura no mercado.

ANGOP: A maioria do seu trabalho é direccionado ao público feminino, abrangendo o mercado de noivas, plus size e de festas.

SP - Sim, porém temos outras sub-linhas programadas: Sp For Men (masculino) Z’s For Kids (para pais e filhos), para breve.

ANGOP: O que o público pode encontrar de diferente nas suas criações?

SP - Só o público pode dizer (risos), mas tem um ou dois itens que ouço com mais frequência nos feedbacks: óptimo acabamento e criatividade.

ANGOP:  Onde compra tecidos e quais as suas preferências?

SP- Para a loja Fast Fashion comprávamos no mercado interno (para não elevar os custos e consequentemente o preço de venda). Porém, como acabavam por aparecer depois no mercado outras peças parecidas, replicadas com o mesmo material por outras pessoas, e sendo a exclusividade um factor fundamental do ADN da nossa marca, mudamos de estratégia e os tecidos são agora de design próprio, criados e confeccionados em fábricas na Europa, para podermos continuar a oferecer ao nosso público justamente o que nos propusemos desde a criação da marca: exclusividade.

ANGOP: Actualmente é uma das estilistas angolanas bem-sucedidas. No princípio imaginava estar onde está hoje?

SP – Sim! Espero não parecer presunçosa, mas sim, porque essa sempre foi a minha meta e sempre trabalhei e garanti que tivesse todos os pressupostos e condições necessários para atingir os meus objectivos. Naturalmente que ver acontecer o que sempre sonhamos é maravilhoso. Sabemos que nem sempre isso acontece e por este motivo eu sinto-me muito abençoada e agradeço a Deus todos os dias. Mas o sonho é ainda maior. Para ele ser completamente realizado faltam algumas paragens.

ANGOP:  Está há sete anos a criar peças sob medida. Já se sente realizada?

SP- Longe disto. É um trabalho árduo e de aprendizado diários, pelo que pretendo e preciso de melhorar ainda vários aspectos. Mas já evoluí bastante em relação ao início. 

ANGOP: Onde fica a família dentro da sua agenda?

SP - Ao lado, sempre. São e sempre serão a minha prioridade. Conciliar é difícil, mas é possível (risos)

ANGOP: O que lhe dá mais trabalho, preparar uma colecção ou cuidar da casa?

SP- Preparar uma colecção (risos). Para quem cuida de casa desde os 11 anos, aos 41 é canja (...). Mas ter ajuda, tanto em um processo quanto em outro, é fundamental para a nossa própria saúde física e mental.

Por dentro

Soraya da Piedade é uma estilista angolana formada no Brasil em Gestão de Negócios e Design de Moda, que se lançou para o mercado da moda em 2010.

Tem tido a honra de apresentar as suas criações em vários países pelo mundo, entre os quais Senegal, Reino Unido, Portugal, África do Sul, Marrocos, Brasil e Gana.

Na sua galeria constam os prémios de criadora do ano (2015/2016 e 2017/2018). Foi homenageada no Brasil pelo seu contributo à Cidade enquanto mulher e empreendedora e eleita, nos Camarões, como a lenda da moda africana em 2018.

Abriu a sua primeira filial (Concept Store) no Brasil em Julho de 2017, na cidade onde se formou, Curitiba, tendo sido vencedora do Globos de Ouro, na Categoria de Criadora do Ano, em 2019.



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