Benguela – Cerca de 120 mil toneladas de produtos minerais, com destaque para o cobre e o manganês, são transportadas anualmente pela Sociedade Nacional dos Caminhos-de-Ferro do Congo (SNCC), via Corredor do Lobito, para exportação, soube a ANGOP.
Em causa estão minérios explorados nas minas de Kisenge, na província de Katanga, República Democrática do Congo (RDC), que estão a ser escoados pela SNCC para este corredor ferroviário até ao Porto do Lobito, de onde são exportados para o mercado internacional.
Este anúncio foi feito, nesta quarta-feira, pelo representante do ministro dos Transportes, Comunicações e Acessibilidade da RDC, Roger Tea-Biasu, durante a segunda reunião do Comité de Ministros da Agência de Facilitação de Transporte de Trânsito do Corredor do Lobito (AFTTCL).
Fruto de uma parceria tripartida entre Angola, RDC e Zâmbia, cujo acordo foi assinado a 27 de Janeiro de 2023, a AFTTCL propõe-se dinamizar a circulação de mercadorias ao longo do Corredor do Lobito, principalmente minérios, e promover a mobilidade dos cidadãos dos Estados-membros.
Ao intervir na reunião, realizada na cidade do Lobito, sede da AFTTCL, Roger Tea-Biasu revelou como o Corredor do Lobito está a impulsionar o transporte dos minérios da exploração de Katanga, no sentido descendente (Luau/Lobito), com destino ao mercado internacional.
Inversamente, também revelou a entrada por ano de 75 mil toneladas de inputs minerais, entre os quais o enxofre, para a RDC, no sentido ascendente (Lobito/Luau), visando atender as necessidades dos operadores das minas de Katanga.
Roger Tea-Biasu disse que o Governo da RDC reconhece a importância particular do projecto de desenvolvimento do Corredor do Lobito, cuja reabertura, lembrou, era há muito esperada pelos exploradores de minérios da grande província de Katanga.
Porque, segundo ele, a grande vantagem é a curta duração de 1.675 quilómetros que separam a cidade mineira de Kolwesi, na RDC, até ao Porto Comercial do Lobito, no litoral de Angola.
Aliás, admitiu que, os custos de transporte são, na verdade, muito competitivos comparados a outros corredores da sub-região, também usados pela RDC, numa clara referência aos corredores da Beira (Maputo) e do Walvis Bay (Namíbia).
Exemplo disso é a empresa canadiana Ivanhoe Mines, que explora as minas de cobre de Kamoa-Kakula, na República Democrática do Congo (RDC), que com a utilização do corredor ferroviário do Lobito, em finais de 2023, após um acordo comercial com a concessionária - Lobito Atlantic Railway (LAR) - viram reduzidos para 20 dias o tempo de viagem até ao Porto do Lobito, de onde despacham para o mercado internacional dez mil toneladas de concentrado de cobre.
Anteriormente, a Ivanhoe Mines levava até 50 dias para uma viagem por estrada, ida e volta, de Kamoa-Kakula até aos portos de Durban (África do Sul), Walvis Bay (Namíbia), Beira (Moçambique) e Dar-es-Salaam (Tanzânia).
Por isso, o representante do ministro congolês dos Transportes afirmou que esse projecto transformador se enquadra no plano de desenvolvimento económico da RDC, face aos reduzidos custos de transporte.
Para além dessas vantagens, antecipa que o Corredor do Lobito poderá ter um impacto significativo na preservação do meio ambiente, pela redução de emissão de gases e pela transferência de grandes quantidades de mercadorias das estradas para o caminho-de-ferro.
Assim, Roger Tea-Biasu saudou a liderança da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), que não poupou esforços para a materialização do projecto Corredor do Lobito.
RDC reitera compromisso
Roger Tea-Biasu também considerou um marco importante a assinatura, em Janeiro de 2023, do acordo tripartido que cria a AFTTCL, dez anos depois da primeira reunião ministerial sobre o Corredor do Lobito, realizada pela SADC em 2013.
Outro ponto de viragem, notou, é o acordo multilateral que Angola, RDC e Zâmbia assinaram, em Outubro de 2023, com o Governo dos EUA, a União Europeia, o Banco Africano de Desenvolvimento (BAD) e a Africa Finance Corporation (AFC).
Conforme afiançou, o objectivo deste acordo multilateral é mobilizar financiamento necessário para a construção do Corredor do Lobito, vital para a conectividade regional.
Deste modo, garante a ratificação desses acordos por parte do Governo da RDC, que também criou um comité técnico nacional, encarregue da materialização desse programa e de outros projectos ligados a esta parceria.
Aproveitou, ainda, para assinalar o empenho do Presidente da RDC, Félix Tshisekedi, na implementação do projecto, para o bem-estar,não apenas da população congolesa, mas também de todos os países abrangidos pelo Corredor do Lobito.
Sobre a reunião dos ministros da AFTTCL, manifestou o compromisso da RDC de adoptar as recomendações do encontro como se de um plano de desenvolvimento se tratasse.
O desafio, vincou, é assegurar a operacionalidade do Corredor do Lobito, de modo a oferecer, aos operadores, facilidades nas transações e reforçar as trocas comerciais entre os três países membros desta infra-estrutura logística. JH/CRB