Lubango - O ambientalista, Silvano Levi, defendeu hoje, quinta-feira, no Lubango, a necessidade das Administração da Humpata criar sinergias para mitigar a crescente onda de construções no polígono florestal da Palanca, uma situação que impacta negativamente os padrões ambientais.
O mais notório é a zona que separa os municípios do Lubango e da Humpata, desde o desvio do Cristo Rei até ao muro da entrada do Polígono Florestal da Palanca, onde tem sido visível, ao lado da Estrada Nacional (EN) 280, a construção de serviços comerciais e residências familiares.
As construções são supostamente legais, pois trata-se de terrenos particulares que estão a ser vendidos a terceiros e estes, por sua vez, mediante uma licença de construção, têm instalado seus empreendimentos, derrubando parte da cortina de eucaliptos existente, que tem servido ao longo dos anos como um mecanismo para cortar o vento, reduz o frio e enriquecer o solo.
Em declarações à ANGOP, o também especialista em ordenamento do território ressaltou o processo de loteamento das terras e a venda foi “mal” concebido, porque o Governo teria o direito de intervir nas vendas daquelas parcelas, visto que a cobertura vegetal fazia parte de um bem comum, dava um impacto visual paisagístico e bom para o ambiente.
O ambientalista disse que qualquer projecto deve merecer um estudo de impacto ambiental e virado igualmente no cuidado da malha rodoviária, pois por se tratar de uma Estrada Nacional, que corre o risco de deixar de ter tal categoria, em função do crescimento das cidades.
“Dá para remediar, os instrumentos do Estado têm de funcionar, porque a Lei base do Ambiente propõe e regulariza a existência de um estudo de impacto ambiental e os planos de ordenamento do território, com as suas ferramentas elásticas e dinâmicas também permitem fazer alguma coisa para devolver de certo modo o património florestal perdido e depois dar segurança rodoviária nesta EN”, manifestou.
Salientou que ao se construir uma obra, num espaço útil para tal, faz com que haja a destruição de algumas árvores e nesta eliminação, a administração do município pode decidir que as árvores deste sítio, em função de obras, devem ser repovoadas num outro, que poderia promover a criação de um outro polígono florestal.
Frisou ter-se já perdido, em função da influência do reassentamento do aglomerado populacional, um espaço de recarga dos aquíferos, onde está a zona residencial das madres, as bombas de combustível da Pumangol e uma linha de água foi obstruída pelas construções.
Reforçou que as administrações do Lubango e da Humpata devem unir forças e técnicas colaterais para mitigar esse problema que afecta todos e depois impacta os padrões sobre o ambiente, pois antes tinham os lençóis freáticos do município mais superficial e actualmente já não têm.
Sugeriu a criação de um plano paisagístico para aquela zona, deixar zonas verdes para sustentar a flora e cobertura vegetal perdida, um processo que precisa de trabalho e técnicos, assim como de consulta pública, porque isso vai chocar com cultura, hábitos e costumes das populações, com a situação económica, outros interesses.
Especialista destaca consequências das construções sem reposição
Silvano Levi avançou que há dez anos notava-se quando não chovia no Lubango, chovia no referido perímetro, hoje já não chove nos dois locais, era normal sentir mais frio na zona e actualmente as temperaturas estão a subir e depois a jogar com a altitude, é uma zona que precisa de cortinas, um processo enquadrado no contexto ecológico.
O também especialista em processos geológicos explicou a importância de terem as cortinas porque a maior parte dos ventos ocorrem no local, pois também a maior reserva de água estava aí.
Humpata aponta medidas de mitigação em curso
Questionada sobre a situação, a directora municipal do Ambiente e Saneamento Básico da Humpata, Cleusia Rodrigues, afirmou que a nível da administração está acautelada a questão da distribuição e venda de terrenos, quer seja pela administração ou pelos proprietários, a fim de garantir que o desenvolvimento urbano aconteça de forma sustentável.
Fez saber que a administração está com um plano de implementação de um “pulmão” de eucaliptos na sede municipal, para beneficiar todo o município, numa uma área identificada, de dois hectares e prevêem iniciar com mais de duzentas mudas de eucaliptos.
"Ao passo que na Palanca, onde estão a ocorrer as construções, temos estado a fazer campanhas de sensibilização aos proprietários junto com a administração comunal e autoridades tradicionais, assim como campanhas de plantação de árvores", continuou.
Reforçou já terem sido instaladas placas de proibição de abates de árvores, e em alguns locais onde fazem o plantio, nem todas crescem, atendendo ao clima, vandalismo, mas estão a estudar uma área na comuna da palanca para a criação de uma nova frente de protecção.
No caso das construções recentes no percurso, Cléusia Rodrigues salientou que os proprietários são obrigados a colocar áreas verdes nos seus espaços.
Questionada sobre a aproximação dos muros à estrada, a fonte referiu estar dentro dos limites.
"A administração está a trabalhar para que na altura da cedência dos terrenos sejam acauteladas algumas regras, como análise do terreno e já não são permitidos industria, fabricas, casas de grande porte, porque essas requerem o abate de mais árvores e está a se acautelar a situação", acrescentou .
Segundo o Instituto de Desenvolvimento Florestal (IDF) na Huíla, a Província da Huíla possui actualmente três polígonos, nomeadamente o do Bunjei e Sandji, no Chipindo e da Humpata, sendo que os do Chipindo foram privatizados.
O Polígono Florestal da Humpata está numa área de 70 mil metros quadrados e todos os anos o mesmo se depara com queimadas, fruto de fogo posto, em função da estrutura estar cercada com aldeias, que têm a tendência de atear fogo no processo de produção de mel, de apascentamento do gado, fogueiras em piqueniques, e acabam por não controlar. EM/M