Ondjiva - O director Sub-Regional da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) para a África Austral, Patrice Talla, considerou, esta quinta-feira, o projecto de transferência de água do canal do Cafu como um dos maiores projectos na região.
Ao falar no final da visita às escolas de campo, implementadas ao longo do canal do Cafu, no Cunene, Patrice Talla reconheceu a dimensão do investimento feito pelo governo angolano, que figura como um dos maiores de abastecimento de água, na África Austral.
“Estou impressionado com a construção deste canal, implementado nesta zona seca, e já consigo imaginar os resultados que irá proporcionar em termos da produção agrícola, abastecimento de água à população e do gado”, afirmou.
Informou que este programa de combate aos efeitos da seca, é muito inovativo, daí a ideia é justamente ver como se pode replicar em outros países com necessidades semelhantes a esta, a nível da África.
“Consideramos um ganho de grande dimensão, que vai mudar a região e a vida das comunidades locais, olhando pelo seu potencial e as pequenas actividades agrícolas que estão a ser praticadas na zona”, realçou.
Fez saber que a FAO tem a ideia de trazer o sector privado nesta região, para investir e construir novas infra-estruturas, por existir um potencial grande que vai permitir dinamizar a produção para segurança alimentar e bem-estar da população.
Lembrou que das 13 escolas de campos ao longo do canal, foi possível constatar duas, onde verificou-se a variedade de vegetais e legumes, criação de animais, bem como a comunidade a aprender as técnicas de produção.
Patrice Talla sublinhou que foi interessante ver também nestas escolas de campo como as crianças estão a ser cuidadas do ponto de vista nutricional, assim como receberem algumas aulas, e isso é uma mais-valia.
O director Sub-Regional FAO para a África Austral, acompanhado pela representante da mesma organização em Angola, Gherda Barreto, regressa hoje, a Luanda, para dar continuidade à visita de cinco dias no país.
Por seu turno, o vice-governador para o sector Político, Social e Económico do Cunene, Apolo Ndinoulenga, destacou a importância da visita do representante da FAO na região Austral do Continente, que vem dar algum impulso no trabalho das escolas de campo.
“Com esta presença de Patrice Talla à província, pensamos que os técnicos da FAO e os gestores das escolas de campo ficam mais incentivados por conta da importância do trabalho que estão a fazer ao longo do Canal", realçou.
Apolo Ndinoulenga disse que estas escolas jogam um papel fundamental na medida que estão a ensinar os camponeses familiares sobre a introdução de outras culturas por sistema de irrigação gota a gota, o que se chama de sustentabilidade.
No Cunene já foram implementados 44 escolas de campos, das quais 13 ao longo do canal, das 75 previstas nos municípios de Ombadja com 14, Cuvelai (14), Cahama (12), Cuanhama (12), Namacunde (12) e (11) no Curoca.
Trabalho da FAO em Angola
Em Angola, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) tem acompanhado o Governo há 15 anos com apoio técnico às Escolas de Campo de Agricultores (ECA).
As ECA-Chitaka são sistemas produtivos com abordagem agro-ecológica integrada e sustentável, que combinam práticas agrícolas e pecuárias climaticamente inteligentes para a resiliência das comunidades afectadas pela seca e que estão a enfrentar as alterações climáticas.
A FAO prevê implementar 225 Escolas de Campo (ECA) na Huíla, Cunene e Namibe, e a integração da metodologia ECA irá aumentar a capacidade de resiliência das famílias e contribuir para a segurança alimentar e nutricional dos pequenos agricultores familiares.
Prevê beneficiar nas três províncias sete mil 875 pequenos agricultores familiares vulneráveis.
Com duração de quatro anos e um orçamento total de 6,6 milhões de euros, co-financiado pela União Europeia com 5,5 milhões de euros, abrange as províncias do Cunene, Huíla e Namibe.
Sistema do canal do Cafu
O Canal do Cafu consiste num sistema de captação e transferência de água do rio Cunene para várias povoações, através de um canal adutor com 160 km de extensão, ao longo dos quais foram construídas 30 chimpacas (locais para abeberamento do gado), com capacidade para 30 milhões de litros cada
Avaliado em 44 mil milhões, 358 milhões e 360 mil 651 kwanzas, vai beneficiar uma população calculada em 235 mil habitantes e ainda o abeberamento de 250 mil animais e a irrigação de cinco mil hectares de campos agrícolas.
Ainda no âmbito do Programa de Combate aos Efeitos da Seca no Sul do país, estão também outros projectos no Cunene e nas províncias da Huíla e do Namibe. No total, vão beneficiar uma população calculada em perto de 3 milhões e meio de habitantes e mais de dois milhões e meio de cabeças de gado. PEM/LHE/BA
