Kigali - Um tribunal do Rwanda condenou hoje a 20 anos de prisão Wenceslas Twagirayezu, um rwandês de origem dinamarquesa extraditado em 2018 da Dinamarca para ser julgado pelo alegado envolvimento no genocídio de 1994 contra tutsis e hutus moderados.
O Tribunal de Recurso de Kigali, capital do Rwanda, tomou esta decisão na sequência de um recurso da acusação contra a sentença de Janeiro da Câmara de Crimes Internacionais e Transfronteiriços do Supremo Tribunal, que tinha absolvido Twagirayezu, segundo o site Noticias ao Minuto.
Na altura, os juízes argumentaram que os depoimentos das testemunhas contra o acusado eram contraditórios e que havia provas de que ele se encontrava na vizinha República Democrática do Congo (RDC) e não no Rwanda na altura do massacre.
Mas na sua decisão de quarta-feira, o juiz argumentou que "quando alguém sai do país, utiliza documentos emitidos pelo Governo e o arguido não conseguiu apresentá-los perante o tribunal".
Assim, "o tribunal considera o recurso da acusação justificado e condena o arguido a 20 anos de prisão", concluiu o juiz.
O advogado de Twagirayezu, Félicien Gashema, declarou após o anúncio da sentença que a decisão "ultrapassa a compreensão", escusando-se a acrescentar mais declarações.
Twagirayezu, um antigo professor primário, foi acusado de ter cometido crimes relacionados com o genocídio na comuna de Rwerere, no distrito de Rubavu, no noroeste do Rwanda.
Durante o julgamento inicial no Tribunal Superior, o arguido chamou 26 testemunhas, incluindo 13 cidadãos democrático-congoleses que, segundo ele, poderiam provar que estava na RDC quando o genocídio eclodiu.
Depois de fugir do país, Wenceslas Twagirayezu chegou à Dinamarca, cuja nacionalidade obteve, mas foi extraditado em Dezembro de 2018 e a acusação pediu inicialmente a prisão perpétua.
O genocídio começou em 7 de Abril de 1994, um dia depois de o avião que transportava os Presidentes do Rwanda, Juvenal Habyarimana, e do Burundi, Cyprien Ntaryamira (ambos hutus), ter sido abatido sobre Kigali, provocando-lhes a morte.
O massacre que se seguiu o Governo rwandês atribuiu o assassínio aos rebeldes tutsis da Frente Patriótica Rwandesa, contra os quais estava em guerra desde 1990 matou pelo menos 800 mil tutsis e hutus moderados em pouco mais de três meses, naquele que é considerado um dos piores massacres étnicos da história recente da Humanidade. DSC/AM