Nova Iorque - O enviado dos Estados Unidos da América (EUA) para a Etiópia evocou hoje os "progressos emergentes" para uma solução diplomática do conflito no país africano, mas advertiu que a actual "escalada" militar corre o risco de os anular.
"O que nos preocupa é que os graves acontecimentos no terreno avançam mais rápido do que estes frágeis progressos", disse Jeffrey Feltman, após regressar de uma nova missão em Adis Abeba.
Face o aumento do conflito, a Organização das Nações Unidas (ONU) vai retirar, até quinta-feira, as famílias dos seus funcionários internacionais na Etiópia, segundo um documento oficial hoje divulgado.
O documento interno dos serviços de segurança da ONU, datado de segunda-feira e citado pela agência France-Presse, exorta a organização a "coordenar a retirada e a garantir que todos os membros da família elegíveis do pessoal estrangeiro deixem a Etiópia até 25 deNovembro, o mais tardar".
Também hoje a França apelou aos seus cidadãos para deixarem a Etiópia "sem demora", uma vez que os combates se aproximam de Adis Abeba, após mais de um ano de guerra entre as forças governamentais e os rebeldes de Tigray.
Antes da França, vários países, incluindo o Reino Unido e os EUA, exortaram os seus cidadãos a deixar o país. Estes últimos também retiraram o seu pessoal não essencial.
O primeiro-ministro, Abiy Ahmed, enviou o exército federal para Tigray no início de Novembro de 2020 para retirar as autoridades da Frente de Libertação do Povo de Tigray (TPLF, na sigla em inglês) na região, que estavam a desafiar a sua autoridade e que acusou de atacarem bases militares.
Ahmed, que ganhou o Prémio Nobel da Paz de 2019, declarou a vitória três semanas depois da captura da capital regional de Tigray, Mekele. Mas em Junho, os combatentes pró-TPLF retomaram a maior parte da região e continuaram a sua ofensiva nas regiões vizinhas de Amhara e Afar.
No final de Outubro, a TPLF alegou ter tomado duas cidades-chave em Amhara, aproximando-se da capital, o que foi negado pelo Governo etíope.
A TPLF, que se aliou ao Exército de Libertação Oromo (OLA), afirmou esta semana estar em Shewa Robit, a 220 quilómetros de Adis Abeba.
O Governo também não se pronunciou sobre esta informação.
Diplomatas familiarizados com a situação de segurança dizem que alguns combatentes rebeldes chegaram à cidade de Debre Sina, cerca de 30 quilómetros mais perto da capital.
Nas últimas semanas, os esforços diplomáticos da comunidade internacional intensificaram-se numa tentativa de assegurar um acordo de cessar-fogo. Ainda hoje os Presidentes da África do Sul e do Quénia exortaram este pedido de um diálogo entre o Governo e os separatistas.
O enviado da União Africana para o Corno de África, o ex-presidente nigeriano Olusegun Obasanjo, e Jeffrey Feltman visitaram a Etiópia na quinta-feira passada e intensificaram os esforços para a negociação de um cessar-fogo no norte do país.
O secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, avisou recentemente que a Etiópia poderia "implodir" se não se encontrar uma solução política para o conflito.
Estando a Etiópia no cerne das preocupações internacionais, o Programa Alimentar Mundial (PAM) anunciou hoje o lançamento de uma "grande" operação de ajuda humanitária para mais de 450.000 pessoas no norte da Etiópia, em Dessie e Kombolcha.
A resposta do PAM no norte da Etiópia precisa urgentemente de 248 milhões de euros para satisfazer as necessidades durante os próximos seis meses.
O balanço do conflito ascende a milhares de mortos, a dois milhões de pessoas deslocadas internamente e, pelo menos, 75.000 refugiados no vizinho Sudão, de acordo com números oficiais.