Genebra - A Organização Mundial de Saúde (OMS) alertou hoje para um aumento acentuado de casos de malária na região etíope do Tigray, onde os rebeldes e as forças governamentais lutam há quase dois anos.
Em Tigray, os casos de malária aumentaram 80 por cento em comparação com o mesmo período do ano passado, disse o gestor de Intervenções de Emergência da OMS para a Etiópia, Ilham Abdelhai Nour, numa conferência de imprensa em Genebra.
"Temos de implementar e realizar atividades de prevenção e tratamento da malária", mas a OMS já não tem a possibilidade de enviar equipamentos por via aérea ou rodoviária há seis semanas, afirmou.
A OMS enviou alguns materiais entre Março e Agosto, durante a trégua humanitária, mas a escassez de combustível limitou severamente o reabastecimento dos centros de saúde na região.
Além disso, pela primeira vez desde a década de 1960, as pessoas no Tigray não têm acesso a intervenções preventivas contra a malária, como medicamentos profiláticos, segundo a organização.
Como a OMS não tem acesso à região, a informação chega-lhe a conta-gotas todas as semanas, através dos centros de saúde.
A organização tem acesso às regiões vizinhas de Afar e Amhara. Na região de Amhara, os casos de malária aumentaram 40 por cento ao longo do último ano.
Até agora, nenhum caso de cólera ou sarampo foi observado no Tigray, disse Abdelhai Nour, mas a OMS continua preocupada, especialmente porque apenas 09 por cento dos centros de saúde da região estão em pleno funcionamento.
A 19 de Outubro, o director-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, natural do Tigray, disse que havia "uma janela de oportunidade muito estreita para evitar o genocídio" na região.
"Crianças morrem todos os dias devido à desnutrição. Não existem serviços para tuberculose, VIH, diabetes, hipertensão, todas as doenças que podem ser tratadas noutras partes do mundo, mas no Tigray são agora sinónimo de sentença de morte", lamentou.
O director de Resposta de Emergência Sanitária da OMS, Altaf Musani, apelou para um acesso sustentado a todas as partes do país e salientou que os riscos sanitários são "vastos, imediatos e reais".
Musani alertou, ainda, para um actual surto de cólera em três subdistritos da região de Oromia e um subdistrito vizinho da região da Somália. No total, foram identificados 273 casos confirmados.
"Para além da cólera, estamos muito preocupados com o sarampo", afirmou, com mais de 6.200 casos comunicados a nível nacional este ano.
A OMS está também profundamente preocupada com os elevados níveis de desnutrição no país.
O conflito no Tigray começou no início de Novembro de 2020 quando o primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed, enviou o exército federal, apoiado por forças regionais de Amhara e do exército da Eritreia, para desalojar as autoridades rebeldes da região, a Frente de Libertação do Povo Tigray (TPLF, na sigla em inglês).
A TPLF dominou a coligação governante da Etiópia durante décadas antes de Abiy chegar ao poder, em 2018, e tê-los expulsado.
Após cinco meses de tréguas humanitárias, os combates foram retomados em 24 de agosto.
O Tigray está isolado do resto do país e privado de eletricidade, redes de telecomunicações, serviços bancários e combustível. A entrada de ajuda humanitária por via rodoviária e aérea também tem sido interrompida desde que os combates foram retomados.