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PR rwandês preocupado com suposta ambiguidade dos EUA sobre genocídio

     África              
  • Luanda • Segunda, 08 Abril de 2024 | 15h55

Kigali - O Presidente do Rwanda, Paul Kagame, declarou hoje estar preocupado com o facto de os Estados Unidos não terem reconhecido que o genocídio de 1994 foi especificamente contra a minoria tutsi do país.

As declarações do Presidente surgiram na sequência de uma publicação do secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, na rede social X (antigo Twitter).

"Lamentamos os muitos milhares de tutsi, hutu, twa e outros cujas vidas se perderam durante 100 dias de violência indescritível", escreveu Blinken.

Kagame disse hoje aos jornalistas que a questão foi discutida com o antigo Presidente dos EUA, Bill Clinton, que liderou a delegação norte-americana na cerimónia de domingo, no 30.º aniversário do genocídio em que os extremistas hutu massacraram cerca de 800.000 pessoas, a maioria das quais tutsi.

As autoridades rwandesas insistem que qualquer ambiguidade sobre quem foram as vítimas do genocídio é uma tentativa de distorcer a história e desrespeita a memória das vítimas.

As autoridades norte-americanas não comentaram hoje o sucedido, mas o Presidente, Joe Biden, emitiu uma declaração domingo, dizendo que os "horrores daqueles 100 dias" nunca vão ser esquecidos.

Num discurso proferido no domingo, o estadista Paul Kagame  afirmou que os cidadãos estão revoltados com o que descreveu como a hipocrisia das nações ocidentais, que não conseguiram impedir o genocídio.

O massacre foi desencadeado quando um avião que transportava o então Presidente, Juvénal Habyarimana, um hutu, foi abatido sobre Kigali, a capital, em 06 de Abril de 1994.

Os tutsi foram responsabilizados pelo sucedido e pela morte do Presidente, tendo-se tornado alvos de massacres dirigidos por extremistas hutu que duraram mais de 100 dias, sendo que alguns revoltosos moderados que tentaram proteger os membros da minoria tutsi também foram mortos.

O Governo há muito que culpa a comunidade internacional por ignorar os avisos sobre os assassínios, com alguns líderes ocidentais a expressarem arrependimento, nomeadamente o Presidente francês que declarou que França poderia ter evitado o massacre, mas não quis.

A composição étnica do Rwanda mantém-se praticamente inalterada desde 1994, com uma maioria hutu. Os Tutsis representam 14% e os Twa apenas 1% dos 14 milhões de habitantes.

O Governo de Kagame, dominado pelos tutsis, proibiu qualquer forma de organização segundo linhas étnicas, como parte dos esforços para construir uma identidade rwandesa uniforme.

Os bilhetes de identidade nacionais já não identificam os cidadãos por grupo étnico e as autoridades impuseram um código penal rigoroso para processar os suspeitos de negarem o genocídio ou a "ideologia" subjacente.

Kagame está sob pressão crescente por causa do envolvimento militar do Rwanda no leste da República Democrática do Congo (RDC), onde as tensões aumentaram recentemente, com os líderes dos dois países a acusarem-se mutuamente de apoiarem grupos armados.

Em Fevereiro, os EUA instaram o país a retirar as suas tropas e sistemas de mísseis do leste da RDC, e descreveu pela primeira vez o Movimento 23 de Março (M23) como um grupo rebelde apoiado pelo Rwanda.

Os peritos das Nações Unidas afirmaram ter "provas sólidas" de que membros das forças armadas deste país estavam a conduzir operações no país em apoio ao M23, cuja rebelião causou a deslocação de centenas de milhares de pessoas na província de Kivu do Norte da RDC.

Kagame afirmou no hoje que o M23 está a lutar pelos direitos dos tutsi congoleses, dos quais pelo menos 100.000 procuram actualmente abrigo no Ruanda, depois de terem fugido dos ataques no leste da RDC.

As autoridades ruandesas afirmam que pretendem dissuadir os rebeldes, incluindo os extremistas hutu responsáveis pelo genocídio, que fugiram para o leste da RDC. DSC/AM

 





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