Nova Iorque - Moçambique surge entre os países acrescentados à lista de focos de fome no relatório hoje divulgado por agências das Nações Unidas, que apontam a violência e os conflitos armados como as principais causas de insegurança alimentar aguda mundial.
O país consta de um relatório denominado "Focos de fome: Alertas precoces da FAO-PAM sobre insegurança alimentar aguda - Perspectivas de Junho a Outubro de 2024" da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) e do Programa Alimentar Mundial (PAM), hoje publicado, segundo a Agência Lusa.
De acordo com o documento, o Mali, Sudão do Sul, Sudão e a Palestina continuam a registar o nível de preocupação mais elevado e o Tchad, República Democrática do Congo (RDC), Myanmar, República Árabe da Síria e o Iémen são pontos críticos de grande preocupação.
"Todos estes pontos críticos têm um elevado número de pessoas que enfrentam, ou que se prevê que venham a enfrentar, níveis críticos de insegurança alimentar aguda, juntamente com o agravamento dos factores que deverão exacerbar ainda mais as condições de risco de vida nos próximos meses", refere-se no documento.
No relatório de Outubro de 2023, Moçambique, República Centro-Africana, Líbano, Myanmar, Nigéria, Serra Leoa e a Zâmbia foram acrescentados à lista de focos de fome, indicam as agências da ONU.
Em situações de violência, "as deslocações generalizadas, a destruição dos sistemas alimentares e a redução do acesso humanitário são susceptíveis de agravar a disponibilidade e o acesso aos alimentos", acrescentam.
"Os conflitos e as deslocações continuam a um ritmo e magnitude alarmantes no Sudão, agravando o fardo para os países vizinhos que acolhem um número cada vez maior de refugiados e repatriados - especialmente no Sudão do Sul e no Tchad", lê-se no relatório.
Também a região do Sahel continua a registar "uma instabilidade perturbadora", com o aumento da violência a incrementar deslocações de civis.
"Prevê-se que a retirada das missões de manutenção da paz das Nações Unidas (ONU) no Mali, na RDC e na Somália criem vazios de segurança, que poderão ser explorados pelos grupos armados não-estatais, expondo ainda mais os civis à violência", indicam.
De acordo com o relatório, no noroeste de África, o conflito na Etiópia continuará a afectar os meios de subsistência agrícolas.
Outra consequência dos conflitos é a contracção do crescimento económico nos mercados emergentes e nas economias em desenvolvimento.
"Muitos países em todo o mundo continuam a debater-se com elevados níveis de endividamento - o que impede muitos Governos de protegerem as suas populações mais vulneráveis - e não há sinais claros de alívio dos elevados custos da dívida", alertam.
A fome é também exacerbada pelos fenómenos meteorológicos extremos, como chuvas excessivas, tempestades tropicais, ciclones, inundações, secas e o aumento da variabilidade climática.
Durante o mês de Fevereiro, em Moçambique, no Maláwi, na Zâmbia e no Zimbabué, um extenso período de seca afectou as culturas na altura em que a água era mais necessária para o seu desenvolvimento.
"Prevê-se que o fenómeno La Niña - que corresponde ao arrefecimento anómalo das águas superficiais do oceano Pacífico - prevaleça entre Agosto de 2024 e Fevereiro de 2025, influenciando significativamente a distribuição da precipitação e as temperaturas", indicam.
Este fenómeno poderá melhorar as perspectivas agrícolas, mas também aumenta o risco de inundações em partes do Sudão do Sul, da Somália, da Etiópia, do Tchad, do Mali, da Nigéria, do Sudão e do Haiti, conclui-se no relatório.DSC/CS