Adis Abeba - A comissária da União Africana (UA), Josefa Correia Sacko, afirmou, em Argel, que mais de mil milhões de pessoas continuam a enfrentar a falta de acesso constante aos alimentos saudáveis, cerca de 42% a nível mundial.
A diplomata angolana falava numa das sessões de debates sobre a alimentação Panafricana que decorreu sob o tema: "Necessidade de construir programas e projectos de desenvolvimento a um nível sub-regional para reforçar a segurança alimentar".
Josefa Sacko acrescentou que a este número (mil milhões) junta-se cerca de 30 por cento de crianças raquíticas devido à má nutrição.
Avançou que além da crise alimentar sem precedentes que se assiste actualmente, todos os anos surgem outras que se sobrepõem e agravam a situação de insegurança alimentar e nutricional em vários países.
“Esta situação nutricional está a anular os modestos ganhos obtidos para alcançar a Declaração de Malabo e a Agenda 2063, os objectivos de desenvolvimento sustentável e periga a promessa de acabar com a fome e a desnutrição até 2030”, disse.
Outro aspecto que afecta a segurança alimentar, segundo Josefa Sacko, é o facto da agricultura africana ser menos produtiva, comparativamente a de outras regiões do mundo.
“Em 2020, o rendimento médio dos cereais em África foi de 1,65 toneladas/hectare, menos de metade da média mundial de 4,07 toneladas/hectare. Além disso, se nada for feito para corrigir esta situação, prevê-se que os rendimentos muito baixos das culturas africanas diminuam de 5% a 17% até 2050, devido às alterações climáticas”, frisou.
Sacko defende, por outro lado, a necessidade de se dar mais importância as culturas locais para fazer face à crise alimentar mundial, cuja estimativas da FAO apontam que as quatro espécies de plantas (arroz, milho, trigo e batata) e três espécies de animais (bovinos, suínos e galinhas) fornecem mais de 50 % da ingestão calórica da humanidade.
As estatísticas do Panorama Regional Africano da Segurança Alimentar e Nutrição - Estatísticas e Tendências 2023 - indicam que quase 282 milhões de pessoas em África (cerca de 20 por cento da população) estão subnutridas, representando aumento de 57 milhões de pessoas desde o início da pandemia da Covid-19. JM