Nova Iorque - O secretário-geral das Nações Unidas (ONU), António Guterres, lançou hoje "um apelo especial à paz", face à situação "profundamente preocupante" na República Democrática do Congo (RDC), cujo povo é vítima de um "ciclo de violência aparentemente interminável".
Numa declaração feita à imprensa na sede da ONU, em Nova Iorque, António Guterres observou que os líderes da Comunidade da África Oriental e da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral participarão na sexta-feira numa Cimeira na Tanzânia para abordar a ofensiva do movimento rebelde M23, apoiado pelas Forças de Defesa do Rwanda, defendendo que este é um "momento crucial" para uma "união pela paz".
"Na próxima semana, em Adis Abeba (capital da Etiópia), participarei numa cimeira do Conselho de Paz e Segurança da União Africana, onde esta crise também estará em destaque. Antes destes encontros cruciais, quero fazer um apelo especial à paz", disse o líder da ONU.
Focando-se no "enorme custo humano" do conflito na RDC, Guterres indicou que milhares de pessoas foram mortas - incluindo mulheres e crianças - e centenas de milhares foram forçadas a abandonar as suas casas no leste do país, além dos inúmeros relatos de abusos dos direitos humanos, incluindo violência sexual e de género, recrutamento forçado e interrupção da ajuda humanitária.
Guterres aproveitou ainda para homenagear todos os que perderam a vida no conflito, incluindo os "capacetes azuis" da missão da ONU na República Democrática do Congo (Monusco) e membros das forças regionais, e manifestou solidariedade ao "povo congolês que se vê mais uma vez vítima de um ciclo de violência aparentemente interminável".
"Não há solução militar", acrescentou o líder da ONU, frisando que é "tempo de todos os signatários do Quadro de Paz, Segurança e Cooperação para a RDC e para a região honrarem os seus compromissos".
"É tempo para mediação. É tempo de acabar com esta crise. É tempo de paz. Os riscos são muito elevados. Precisamos do papel activo e construtivo de todos os intervenientes, nomeadamente, os países vizinhos, as organizações sub-regionais, a União Africana e as Nações Unidas. Vamos todos agir juntos pela paz", concluiu Guterres.
A ofensiva do M23 - composto maioritariamente por tutsis vítimas do genocídio ruandês de 1994 - fez aumentar as tensões da RDC com o Rwanda, com Kinshasa a acusar Kigali de apoiar o grupo armado, uma alegação confirmada pela ONU.
Por seu lado, o Rwanda e o M23 acusam o exército democrático-congolês de cooperar com as Forças Democráticas para a Libertação do Rwanda (FDLR), grupo fundado em 2000 por líderes do genocídio e outros rwandeses exilados para recuperar o poder no seu país, uma colaboração também corroborada pela ONU.
Desde 1998, o leste da RDC está num conflito alimentado por milícias rebeldes e pelo exército, apesar da presença da missão de manutenção da paz da ONU no país. JM