Nova Iorque - O secretário-geral da ONU, António Guterres, instou hoje (terça-feira) as autoridades da República Democrática do Congo (RDC) a investigarem os ataques na província de Ituri, que fizeram 70 mortos desde domingo.
Guterres "apela às autoridades congolesas para que investiguem estes incidentes e levem os responsáveis à justiça", pode ler-se num comunicado das Nações Unidas.
O secretário-geral insta ainda as autoridades a garantirem "acesso imediato, livre e desimpedido" da missão da ONU no terreno (Monusco) às áreas onde ocorreram os ataques "para facilitar os esforços de protecção dos civis", acrescenta-se na nota.
O ex-primeiro-ministro português exprime "as suas mais profundas condolências às famílias das vítimas" e deseja melhoras rápidas aos feridos, segundo o porta-voz da ONU, Stéphane Dujarric, citado no comunicado.
Sublinhando o apoio da ONU à RDC, Guterres pede a todos os grupos armados que ponham fim aos seus "ataques cruéis" a civis e insta-os a "participarem incondicionalmente no processo político no país, depondo as armas através do programa de Desarmamento, Desmobilização, Recuperação da Comunidade e Estabilização".
O comunicado da ONU faz referência ao ataque perpetrado no domingo pelo grupo rebelde Cooperativa para o Desenvolvimento do Congo (Codeco) numa mina próxima da cidade de Mambilidei, na província de Ituri, que fez pelo menos 55 mortos, segundo fonte da sociedade civil citada pela Efe.
Segundo o comunicado da ONU, mais civis foram deslocados e dados como desaparecidos quando os atacantes incendiaram a aldeia de Malika, onde também terão violado seis mulheres.
A Monusco realizou uma evacuação médica na segunda-feira, transportando civis gravemente feridos para instalações médicas na capital da província, Bunia, pode ler-se na nota da ONU.
Já hoje, a agência Efe noticiou que outras 15 pessoas foram mortas na noite de segunda-feira num novo ataque imputado à Codeco num campo de deslocados no nordeste da República Democrática do Congo (RDC).
O ataque teve lugar no povoado de Lodda, também na província de Ituri, por volta das 21:00 locais de segunda-feira, informou Jules Tsuba, líder da sociedade civil do território de Djugu, em declarações divulgadas nos meios de comunicação locais.
Desde meados de Novembro de 2021, têm ocorrido vários ataques mortais a campos de deslocados na província de Ituri, repetidamente condenados pela ONU.
A Codeco é um grupo rebelde pouco conhecido, que nasceu em 2018 com o objectivo de combater os abusos do exército congolês. São-lhe imputados numerosos massacres de civis e têm multiplicado os ataques desde o ano passado na província de Ituri.
Segundo o Gabinete do Alto-Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, a Codeco matou mais de 400 pessoas em 2021 e tornou-se a segunda milícia mais mortífera da região.
Confrontado com os ataques rebeldes em Ituri e na província vizinha do Kivu do Norte, principalmente pelas Forças Democráticas Aliadas (ADF), baseadas no Uganda, o Governo da RDC impôs um estado de sítio em ambas as províncias em Maio de 2021.
Os exércitos da RDC e do Uganda lançaram uma operação conjunta no final de Novembro de 2021, que ainda está em curso, mas a situação no terreno não melhorou.
Desde 1998, o leste da RDC é palco de conflitos, alimentados por milícias rebeldes e ataques de soldados do exército, não obstante a presença da Monusco, que tem no país mais de 14.000 soldados destacados.