Madrid - Espanha considera Cabo Verde um "parceiro de referência" em África devido à estabilidade democrática e proximidade com as Canárias, disse hoje o Governo de Madrid, na véspera da visita do ministro dos Negócios Estrangeiros espanhol à Praia.
José Manuel Albares vai estar em Cabo Verde na terça-feira, para encontros com as autoridades do país africano, entre elas, o homólogo cabo-verdiano, Rui Alberto de Figueiredo Soares, noticia o site Notícias ao Minuto.
A viagem ocorre dois meses depois de uma visita a Espanha do Presidente de Cabo Verde, José Maria Neves, que disse na altura esperar um reforço das relações bilaterais e revelou que o Governo de Madrid e os países da África Ocidental preparam uma cimeira para abordar temas como a segurança no Golfo da Guiné, migrações e apoio ao desenvolvimento da região.
"Cabo Verde é um parceiro de referência para Espanha nesta região de África em matéria de governação, Estado de direito e democracia, e ocupa um lugar estratégico por causa da sua posição em África e a sua proximidade com as ilhas Canárias, o que o converte num actor chave para a segurança e a estabilidade marítima", afirmou hoje o Governo espanhol, num comunicado em que anunciou a visita de Albares à Praia.
Esta viagem visa "reforçar o compromisso de Espanha com África" e enquadra-se na "aposta de Espanha pelo desenvolvimento da África subsaariana e o Sahel", segundo o executivo de Madrid.
A deslocação é também um compromisso de Espanha com "o futuro económico" de Cabo Verde "e as reformas desenhadas para favorecer a implantação da economia azul e aumentar a segurança", lê-se no mesmo texto.
Espanha é o primeiro cliente e o segundo fornecedor de Cabo Verde dentro da União Europeia, além de ser o terceiro destino dos investimentos espanhóis na África subsaariana, com destaque para os sectores da pesca e do turismo.
Nesta visita, o ministro dos Negócios Estrangeiros (MNE) José Manuel Albares vai manifestar "o interesse das empresas espanholas em aumentarem a sua actividade" em Cabo Verde, assim como pedir ao Governo da Praia a adesão à Aliança Internacional contra a Seca promovida por Espanha, à Associação Internacional de Dessalinização (IDRA) e à rede LGBTI (lésbicas, gays, transexuais, bissexuais e intersexuais).
Segundo o mesmo comunicado, a cooperação espanhola com Cabo Verde prevê mais de 10 milhões de euros para o período 2021-2024.
Em paralelo, "Espanha e Cabo Verde partilham pontos de vista na política internacional", nomeadamente em relação à Ucrânia e ao conflito em Gaza, destacou ainda o Governo de Madrid.
O Governo espanhol, liderado pelo socialista Pedro Sánchez, apresentou em 2021 o plano "Foco África 2023", com o qual tenta marcar um ponto de viragem nas relações com o continente africano e diversificar a sua influência diplomática fora da Europa, tradicionalmente centrada na América Latina e no norte de África.
O "Foco África 2023" considera como "países âncora" Nigéria, Etiópia e África do Sul e, como "países prioritários", os lusófonos Angola e Moçambique, além de Senegal, Costa do Marfim, Gana, Quénia e Tanzânia.
Segundo Sánchez, "a emergência climática é sem dúvida nenhuma" o maior desses desafios comuns, a que juntou "a transição energética que implica essa emergência climática", "a evolução tecnológica", a segurança alimentar ou os movimentos migratórios.
Sánchez esteve em 2022 no Quénia e na África do Sul, depois de em 2021 ter visitado Senegal e Angola.
Em Abril, o Presidente de Cabo Verde disse em Madrid, após um encontro com Sánchez, que Espanha e os países da África Ocidental preparam uma cimeira para abordar temas como a segurança no Golfo da Guiné, migrações e apoio ao desenvolvimento da região.
Espanha está a lidar com um pico inédito de chegadas de migrantes, de forma irregular, às Canárias, sobretudo desde meados do ano passado.
José Maria Neves lembrou em Abril que Espanha e Cabo Verde já têm um acordo bilateral na área da segurança para protecção das costas cabo-verdianas com patrulhas conjuntas "que tem sido muito bem sucedido".
"Mas é possível alargar ainda mais essa cooperação", acrescentou, lembrando que existem acordos também com outros países da União Europeia (como Portugal) e com o Reino Unido. MOY/AM