Cartum - A Organização Não-Governamental (ONG) Islamic Relief alertou sexta-feira que a população do Sudão está em risco de não receber ajuda humanitária devido ao apagão das comunicações, especialmente da Internet, que se verifica no país.
O Sudão está a sofrer um apagão desde 07 de Fevereiro, em consequência dos intensos combates que decorrem no país e que está a colocar em causa o socorro à população atingida.
Em comunicado, a ONG afirmou que esta situação levou a que a ajuda alimentar vital para algumas das pessoas mais necessitadas no Sudão fosse "interrompida devido ao contínuo apagão da internet e do telefone no país", envolvido numa guerra sangrenta entre o exército e o grupo paramilitar Forças de Apoio Rápido (RSF).
Este apagão significa uma interrupção total das comunicações, das transferências bancárias, dos pagamentos electrónicos e da distribuição da ajuda humanitária, uma vez que muitos dos bancos nas zonas de combate não estão a funcionar, o que também impede as pessoas de levantarem dinheiro para abastecer.
"O apagão é potencialmente mortal para muitas das comunidades mais pobres. Por exemplo, as cozinhas comunitárias em Cartum e em Um Durman tiveram de fechar temporariamente porque já não podem receber transferências de dinheiro, deixando muitas famílias pobres sem acesso a alimentos a preços acessíveis", detalhou a mesma fonte.
A situação ocorre numa altura em que "a fome está a aumentar em todo o Sudão, após mais de dez meses de guerra brutal", afirmou a Islamic Relief, que recordou que 20% da população está a enfrentar níveis de fome de "emergência", ou seja, "a um passo da fome".
Outros 35% da população estão em níveis de fome de "crise", enquanto pelo menos 24,8 milhões de pessoas necessitam de alguma forma de ajuda alimentar.
O apagão ameaça as operações humanitárias em grande parte do Sudão e, quanto mais tempo durar, mais projectos de ajuda vão ter de parar.
Segundo o director da ONG no país, Elsadig Elnour, depois de mais de dez meses de guerra, milhões de pessoas estão por um fio e agora o seu único meio de subsistência está em risco.
De acordo com uma das principais empresas de telecomunicações do Sudão, a Zain, o apagão foi desencadeado por uma das partes beligerantes que ordenou o encerramento do principal centro de dados em Cartum, e causou graves perturbações na maior parte do país, excepto no leste e no norte.
Nesta situação, algumas pessoas, hospitais e outras instalações foram obrigadas a utilizar o sistema Starlink de Elon Musk, apesar dos custos elevados para uma população que está a empobrecer a passos largos.
O país tem lutado com as devastadoras consequências políticas, de segurança e humanitárias dos combates que eclodiram em 15 de Abril em Cartum e arredores, na sequência de divergências entre o exército e as RSF sobre a integração deste grupo paramilitar nas forças armadas, o que fez descarrilar o processo de transição que se seguiu ao derrube do antigo Presidente Omar Hassan al-Bashir, após 30 anos no poder.
Actualmente, estes confrontos levaram a uma guerra civil que causou um número recorde de pessoas deslocadas, nove milhões internamente e 1,7 milhões de exilados, o maior número do mundo neste momento, ultrapassando mesmo os sete milhões de sírios deslocados.
Cerca de 13.900 pessoas morreram e 8,1 milhões fugiram das suas casas devido aos confrontos entre o exército sudanês e as paramilitares, segundo os dados das Nações Unidas revelados em 23 de Fevereiro.
Em Novembro, o Sudão pediu a António Guterres "o fim imediato" da missão da ONU no país, segundo uma carta distribuída ao Conselho de Segurança das Nações Unidas.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, garantiu que continua fortemente comprometido com o povo do Sudão, apesar da Missão das Nações Unidas ter concluído a 29 de Fevereiro a retirada do país. MOY/AM