Yaoundé - A Amnistia Internacional (AI) denunciou hoje, segunda-feira, que os Camarões mantêm na prisão mais de cem pessoas das regiões do país de língua inglesa e simpatizantes do principal partido da oposição por "exercerem o direito à liberdade de expressão e reunião".
De acordo com um comunicado divulgado pela AI, muitas dessas pessoas foram detidas enquanto participavam em protestos pacíficos ou simplesmente por serem apoiantes do Movimento para o Renascimento de Camarões (MRC), da oposição.
"Nos últimos cinco anos, (...) pessoas de regiões anglófonas, incluindo jornalistas, defensores dos direitos humanos, activistas e apoiantes da oposição, foram detidos por expressarem as suas opiniões ou protestarem pacificamente", revelou Fabien Offner, da AI para a África Central.
A maioria desses civis foi julgada em tribunais militares - uma violação da lei internacional de direitos humanos - e recebeu sentenças baseadas numa lei antiterrorismo repressiva aprovada em 2014, segundo a Organização Não-Governamental (ONG).
A AI anunciou igualmente hoje o início de uma campanha para pedir às autoridades camaronesas que libertem estes prisioneiros.
"Pedimos às autoridades camaronesas que libertem imediata e incondicionalmente todas as pessoas detidas por exercerem o seu direito à liberdade de expressão e protesto pacífico", disse Offner.
De acordo com depoimentos recolhidos pela AI, os detidos nas regiões anglófonas foram mantidos incomunicáveis e sofreram tortura e maus-tratos, incluindo espancamentos, chicotadas, privação de comida e água por vários dias, afogamento simulado e puxões de unhas.
Nos Camarões - que foi colónia britânica e francesa até 1960 -, o inglês e o francês são línguas oficiais e coexistem ao lado de outras 250 línguas nativas.
No entanto, em Outubro de 2017, vários protestos pacíficos de professores e funcionários da justiça que pediram para usar o inglês em tribunais e escolas foram duramente reprimidos pelas forças de segurança, o que levou ao aparecimento de grupos separatistas.
Desde então, mais de 180 mil pessoas foram deslocadas pela violência e pelas operações dos militares contra grupos separatistas armados, que organizações como a AI acusam de matar civis e arrasar aldeias.
O presidente dos Camarões desde 1982 é Paul Biya, de 88 anos, o segundo chefe de Estado de África há mais tempo no poder, superado apenas pelo guineense Equatorial Teodoro Obiang.