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África "foi abandonada" para combater sozinha o terrorismo

     África              
  • Luanda • Terça, 15 Outubro de 2024 | 15h53
Presidente da República do Senegal, Macky Sall
Presidente da República do Senegal, Macky Sall
Francisco Miúdo

Londres - O antigo Presidente do Senegal Macky Sall criticou hoje os países ocidentais por "abandonarem África" na luta contra o terrorismo, e recusou as conclusões de uma auditoria interna que diz haver uma dívida oculta.

"África foi abandonada ao seu destino para enfrentar os desafios do terrorismo, quer seja na região do Sahel, ou no Corno de África, ou até mesmo na África Austral, em Moçambique", disse Sall num discurso no Fórum da Resiliência do Futuro, que decorreu em Londres com o objectivo de encontrar soluções para ameaças, alterações climáticas e outros desafios globais.

De acordo com a agência de informação financeira Bloomberg, Macky Sall afirmou: "O avanço do terrorismo no continente não é só uma questão africana, seria um erro acreditar que cabe aos africanos resolver esta questão".

Para o antigo Presidente senegalês, as missões de paz das Nações Unidas "são basicamente ineficazes e inapropriadas para a situação no terreno", não conseguindo, por isso, resolver os problemas de segurança em África.

Apesar de o Senegal ter sido geralmente poupado às insurgências que afectam os seus vizinhos, as suas tropas chegaram a apoiar o exército do Mali, primeiro como parte do apoio militar africano, e depois como parte da missão das Nações Unidas nesse país.

A região do Sahel tem sido muito afectada por conflitos, com três países (Níger, Mali e Burkina Faso) a serem agora dominados por uma juntas militares que tomaram o poder através de golpes de Estado.

Durante a passagem por Londres, Macky Sall deu também uma entrevista à televisão da Bloomberg para desmentir as conclusões de uma auditoria às contas públicas, encomendada pelo novo primeiro-ministro, Ousmane Sonko, e que dá conta da existência de mais dívida e défice do que aquele que foi contabilizado nas contas públicas.

"Lamento os comentários do primeiro-ministro, que são totalmente falsos e levaram a uma descida do rating do Senegal", disse Sall na primeira resposta à divulgação da auditoria, no final de Setembro, na qual se afirma que o rácio média da dívida pública foi de 76,3% nos cinco anos do mandato de Sall, e não os 65,9% registados, além de um défice de mais de 10% do PIB no final do ano passado, mais do dobro do reportado nas contas públicas.

Radicado em Marrocos desde a saída do poder, Macky Sall argumentou que não é possível financiar o desenvolvimento económico dos países africanos sem contrair dívida, mas rejeitou que os números apresentados não fossem os verdadeiros.

No seguimento da divulgação da auditoria, a agência de notação financeira Moody's desceu o rating do país para B1, quatro níveis abaixo da recomendação de investimento.

O Senegal, que garantiu um financiamento de 1,8 mil milhões de dólares, cerca de 1,6 mil milhões de euros, do Fundo Monetário Internacional (FMI) no ano passado, está à beira de tornar-se um importante produtor de petróleo e gás, com a economia a crescer 6% este ano apesar de um terço dos 18 milhões de habitantes viverem na pobreza.

Em Junho, o Senegal emitiu dívida no valor de 750 milhões de dólares, 687 milhões de euros, no âmbito de um plano abrangente que prevê investimentos de 30,5 mil milhões de dólares (28 mil milhões de euros) nos próximos cinco anos para financiar o desenvolvimento desta nação da costa oeste africana, e que é o país continental mais perto de Cabo Verde. JM





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