Luanda - O professor de Relações Internacionais Bernardino Neto disse hoje, em Luanda, que a entrada da União Africana (UA) no G20 irá trazer alguma visibilidade ao continente, mas, para que isso aconteça, deverá posicionar-se para ter um papel mais actuante na organização.
Bernardino Neto falava à ANGOP a propósito da admissão da União Africana no G20 (grupo de países que reúne as principais economias mundiais), anunciada a 09 deste mês, durante a 18ª Cúpula da organização realizada de 09 a 10 deste mês, em Nova Delhi, Índia.
Segundo o docente, é preciso que África analise diversos aspectos, dentre eles a relação entre os próprios estados do continente, assim como o nível de tratamento dado pelas instituições financeiras mundiais, para que a sua presença seja mais expressiva e não de mero observador.
“Os líderes dos 54 países que compõem o continente africano devem interrogar-se para saber qual dos G20 vão fazer parte: o G20 que tem a ver com a Organização Mundial do Comércio ou o G20 que está acoplado às instituições dos Bretton Woods (Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional).
A este respeito, Bernardino Neto disse existir um tratamento diferenciado da parte dos Bretton Woods em relação aos países africanos.
“Os países da África do Norte não são considerados membros de todo conjunto de África, isto no mapeamento do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional. A África branca é colocada como do médio Oriente. Então, só resta a África subsariana, que até ao momento conta apenas com África do Sul. São estas questões que também devem ser tidas em conta para vermos que África vai participar no G20”, sustentou.
Para o especialista em Relações Internacionais, é imperioso que a África participe na organização com propriedade para dar sustentabilidade à pressão que o continente tem dentro das relações comerciais mundiais.
“África detém os recursos naturais mais procurados no mundo e a participação do continente dentro do comércio internacional não ultrapassa três triliões de dólares diante de 80 triliões que fazem funcionar o mundo, sendo ainda insignificante”, explicou Bernardino Neto.
Acrescentou que os Estados africanos devem igualmente prestar atenção às questões de financiamentos e levar em debate objectivos e prioridades concretos para se saber o que os africanos pretendem de facto e, deste modo, se posicionarem.
Avançou que, deste ponto de vista, ainda há muito trabalho para se fazer. As lideranças africanas devem observar e agir com a cabeça fria.
A cúpula do G20 em Nova Delhi, na Índia, confirmou a entrada da União Africana (UA) ao grupo de países que reúne as principais economias mundiais como membro permanente. Até então, a África do Sul era o único integrante do continente africano.
Com a entrada da UA, o G20 passa a ter dois blocos entre seus membros, já que a União Europeia também faz parte. CS/JM